domingo, 14 de fevereiro de 2016

Perfil: Jonas Suassuna, o ´empresário` extrovertido de múltiplos negócios. ´Executivo` é um dos ´proprietários` do sítio de Lula



Suassuna apresenta, em visita à Espanha, proposta de projeto editorial - Gerard Julien/ AFP


Juliana Castro e Marcelo Grillo - O Globo




Comunicativo e extrovertido, o empresário Jonas Suassuna, de 57 anos, calou-se desde a revelação de que é um dos donos do sítio em Atibaia frequentado pelo ex-presidente Lula. Executivo com atuação em diversos setores — os negócios vão da área editorial ao setor imobiliário —, Suassuna também tem sócios variados. Fazem parte da lista, além dos dois filhos Caio e Bianca, um dos filhos de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e réus em ações judiciais.

Suassuna e Lulinha são sócios na empresa BR4 Participações, e a relação vai além dos negócios: o empresário já pagou o aluguel do filho de Lula em um apartamento nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. A sociedade voltou à tona com o uso do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, pelo ex-presidente. O juiz Sérgio Moro já autorizou a abertura de inquérito para apurar se a OAS, a Odebrecht e o pecuarista José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava-Jato, fizeram obras na propriedade.

O principal empreendimento de Suassuna é o Grupo Gol, focado na edição de conteúdo impresso e digital no segmento de educação e entretenimento.

A Editora Gol, braço do grupo, firmou contratos com o setor público. Entre 2006 e 2015, recebeu quase R$ 419 mil da União no ramo de livros didáticos. Do governo do Rio, foram R$ 8,5 milhões em 2009 e R$ 4,7 milhões em 2004.

Antes de fazer fortuna com o Grupo Gol, Suassuna comandou a agência de publicidade Zapt. Em 1995, foi eleito presidente da seção estadual da Associação Brasileira de Agências de Publicidade e engajou o setor em campanhas como a “Reage, Rio”, que organizou uma passeata contra a violência. Anos antes, o próprio empresário fora vítima de um episódio traumático: em 1988, seu filho mais novo, Caio, então com dois meses, foi sequestrado em casa. O menino foi encontrado no dia seguinte, abandonado nas proximidades de um viaduto em São Cristóvão.


Com atuação diversa, Suassuna também investiu no esporte. Na década de 1990, costurou um patrocínio para o Vasco. No mercado editorial, seu xodó atualmente é a “Nuvem de Livros”, plataforma que disponibiliza, além das publicações em texto, audiolivros, filmes e jogos educativos em um ambiente virtual. O sucesso o levou à Campus Party, onde brincou com as confusões que envolvem o grupo e a companhia aérea, por terem o mesmo nome.

— É uma confusão danada, porque toda vez que o presidente da Gol é preso por alguma coisa, me ligam automaticamente — disse Suassuna, em referência ao fundador da companhia aérea, preso e depois absolvido da acusação de tentativa de homicídio. A declaração está em um vídeo de 2013, postado na internet.

O empresário mora em um condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca e circula com desenvoltura pela sociedade carioca — seu segundo casamento, em 2013, recebeu cobertura de colunas sociais. Frequenta bons restaurantes, como o Pobre Juan, joga golfe e, nos momentos de folga, viaja a Angra dos Reis.

Além de Lulinha, o empresário, primo do ex-senador Ney Suassuna, teve outros sócios conhecidos, caso dos ex-controladores do banco Cruzeiro do Sul Luís Felippe e Luís Octávio Indio da Costa. Em 2005, eles criaram a empresa Bancobanca, para oferecer cartão de crédito a aposentados em bancas de jornal. Suassuna, que àquela altura já se orgulhava de vender junto com jornais milhões de CDs com a Bíblia gravada na voz de Cid Moreira, era o parceiro perfeito para a empreitada. Pai e filho compraram a parte de Suassuna em 2012.

A amigos, ele dizia ter ganho um dólar por disco vendido, numa conta que teria chegado a US$ 30 milhões. Os Indio da Costa são réus na Justiça, acusados de integrar organização criminosa que fraudava empréstimos consignados.

Em outras duas empresas, a Zapt Comércio e Serviços e a imobiliária Zarpar, Suassuna enfrenta pendências judiciais por causa da situação de seu sócio, o contador Carlos Masetti Júnior, que teve os bens bloqueados pela Justiça — a decisão inclui as cotas do contador nas companhias. Masetti é um dos réus no processo de falência da distribuidora de combustíveis Petroforte. A ação apura a existência de um esquema de desvio de ativos, em uma série de transferências de bens para outras empresas, em prejuízo aos credores.


Na ocasião, Masetti era presidente da Securinvest, apontada na investigação como uma das companhias usadas para “esconder” os bens. A Securinvest, por sua vez, era controlada por duas offshores, representadas na época por Masetti. Documentos no processo indicam que a beneficiária das offshores era Kátia Rabello, controladora do Banco Rural e condenada no mensalão.

Masetti diz que a afirmação de que a Securinvest participou de fraudes na Petroforte “não tem a menor lógica” e afirma que “nunca teve a informação” de que Kátia era a dona de fato da empresa. Sobre a relação com Suassuna, Masetti afirma que foi o responsável pela contabilidade das empresas, inclusive do Grupo Gol, há “até 7, 8 anos”.

Um terreno de Suassuna, na Ilha dos Macacos, ponto nobre de Angra dos Reis, foi comprado em 2012, por R$ 72,5 mil. Hoje, a casa construída é o local de descanso preferido da família. Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, um dos advogados do empresário disse que Lula já visitou a casa. Procurado, Suassuna não quis se manifestar.