segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Livro desmistifica dietas famosas dos últimos 50 anos

Salada de aspargos trufados e queijo, um exemplo de prato leve. Mas atenção: nada de se limitar a isso - Rodrigo Azevedo / Divulgação/Rodrigo Azevedo


Clarissa Pains - O Globo


Autora destaca a importância de adequar o regime à personalidade de cada pessoa


Dias depois de começar uma dieta nova, a pessoa “joga tudo para o alto” e passa a comer, em dobro, o que não comeu nas últimas horas. Com isso, o efeito sanfona e a frustração são quase automáticos. Não mais. Para evitar este tipo de situação, a escritora britânica Caroline Jones montou um guia que desmistifica as 30 dietas mais famosas dos últimos 50 anos, destacando quais são os estilos de vida, personalidades e tipos físicos que mais costumam se adequar a cada uma delas. Recém-lançado no Brasil, o livro “A melhor dieta para você” parte do princípio que o regime alimentar deve ser sempre personalizado, e não “modinha”.

— Somos bombardeados com promessas de emagrecimento que vão de dietas que eliminam gordura ou cortam carboidratos às que estimulam o consumo de superalimentos ou a prática do jejum. A indústria das dietas, altamente lucrativa, prefere manter em segredo indicações que poderiam poupar muito tempo, dinheiro e estresse — diz a autora, que é jornalista especializada em saúde. — Com um método que combine uma determinada dieta com as peculiaridades de cada, é possível tomar a decisão certa em relação à dieta mais apropriada para cada realidade, como também para ajudar a encontrar um programa alimentar saudável que possa ser adotado para a vida inteira.

A autora não só destrincha os prós e contras desses regimes, como dá exemplos de cardápios. Entre as analisadas, estão algumas dietas muito comentadas no Brasil, como a macrobiótica, a mediterrânea, a dos Vigilantes do Peso e a sem glúten. Mas há também algumas pouco conhecidas por aqui: a dos viciados em açúcar, a do grapefruit e a da sopa de repolho.


RESTRIÇÕES PERIGOSAS

No grupo que classifica como de restrições perigosas, Caroline destaca as dietas de Cambridge, a paleolítica e a da sopa de repolho. A primeira prevê a substituição de alimentos sólidos por shakes, o que é uma constante fonte de controvérsia. Já a segunda traz o mote de “ficar magro como um homem das cavernas”, com regime rico em carnes de caça. Por fim, a da sopa de repolho permite que a pessoa adquira menos de 1.200 calorias por dia, o que não é considerado seguro — o normal são duas mil calorias.

— Algumas dietas têm mais contras do que prós. Normalmente, as mais radicais são as que trazem mais problemas — pontua Caroline. — Na dieta da sopa, por exemplo, que tem tão poucas calorias, é quase impossível obter os nutrientes necessários para saciar a fome de maneira apropriada. Por isso, se ela for seguida por muito tempo, provocará graves problemas nutricionais. E, se a pessoa tem saúde frágil, os possíveis efeitos colaterais podem ser ainda mais graves.

Para a escritora, equilíbrio e variedade são fundamentais. E é esse o tom adotado também pela cientista sênior da Fundação Britânica de Nutrição, Bridget Benelam, que assina o prefácio do livro. Segundo ela, “qualquer plano de emagrecimento que proponha a exclusão de determinados alimentos ou grupos de alimentos (laticínios ou carboidratos, por exemplo) aumentará o risco de carência de vitaminas, minerais ou fibras, o que pode acarretar distúrbios no organismo”.

A pesquisadora ressalta que, de acordo com estudos, cerca de 80% das pessoas que conseguem emagrecer voltam a engordar em um ano. “Emagrecer é um desafio tanto do ponto de vista emocional quanto do físico”, escreve Bridget. Ela destaca que inúmeros fatores sociais e psicológicos influenciam os hábitos alimentares, e que as pessoas bem-sucedidas no processo de emagrecimento são, em geral, aquelas que “exercitam a ‘restrição flexível’, ou seja, vigiam o que comem, mas não excluem da dieta os alimentos de que gostam e não se deixam abalar por pequenos deslizes”, ensina a cientista.

O endocrinologista Pedro Assed faz coro. Ele ressalta, ainda, que aspectos como o gênero e a idade precisam ser levados em consideração antes de iniciar uma dieta, porque alguns regimes são mais adequados para homens do que para mulheres, ou indicados apenas para jovens, e não para quem tem mais de 65 anos.

— Uma dieta hiperproteica, que corta totalmente os carboidratos, geralmente é mais bem aceita pelo organismo do homem. As mulheres, que não costumam ser tão carnívoras, acabam desistindo na primeira semana. Podem até passar mal. E, para quem tem é idoso, esta não é uma dieta recomendada, porque as pessoas mais velhas já têm função renal prejudicada, e este regime aumenta muito a concentração de ureia — afirma Assed, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota) da PUC-Rio.

Ele também alerta que a duração de uma dieta baseada quase exclusivamente em proteínas não pode passar de 60 dias.

— Os homens que a seguem e veem um rápido emagrecimento acham que descobriram a pólvora. Mas essa dieta é emergencial, não pode ser usada como estilo de vida, senão haverá problemas graves de saúde — assinala o médico.

Já as mulheres têm muito mais facilidade para se comprometer com dietas detalhistas. Por isso, programas alimentares macrobióticos — com ênfase em alimentos crus — ou detox tendem a ser mais bem aceitos por elas, diz o médico.

‘O FUTURO ESTÁ NA NUTRIGENÔMICA’

O endocrinologista é taxativo ao dizer que a chave do sucesso está na tão famosa, mas pouco usada, reeducação alimentar.

— Eu gosto do que chamo de dieta de estilo de vida, porque ela sempre exige um certo tempo, então a pessoa se reeduca. As maiores vitórias que eu tive em consultório foram com pessoas que toparam embarcar em um projeto de reeducação. E as maiores derrotas foram com aqueles que queriam uma resposta rápida — lembra ele.

Segundo Assed, a ciência da nutrição caminha rumo a um futuro no qual dietas serão construídas de acordo com o genoma de cada pessoa. Esse conceito já tem até nome: nutrigenômica. Os estudos nessa área avaliam a interação entre os genes e componentes bioativos dos alimentos, numa tentativa de explicar porque uma pessoa engorda mais quando ingere determinada comida, enquanto esta mesma comida não tem efeitos sobre outros indivíduos.

— O futuro está na nutrigenômica. Será o ápice da personalização das dietas — diz ele.