Leticia Moreira - 22.out.2010/Folhapress | |
Irã retomou em 2015 a posição de maior produtor mundial de pistache |
Com "FINANCIAL TIMES"
Não é só o mundo do petróleo que se prepara para a volta do Irã ao mercado depois da recente suspensão de sanções norte-americanas.
Comerciantes internacionais de pistache tentam avaliar como a mudança afetará o fluxo de oleaginosas produzidas no país do Oriente Médio, e se haverá acesso ao mercado americano, até agora fechado. Estados Unidos e Irã disputam o posto de maior produtor e exportador do mundo há anos.
Para executivos do setor no Irã, a exportação subirá. "As transações se tornarão mais fáceis", diz Mahmoud Abtahi, vice-presidente da associação do pistache iraniana.
"O pistache iraniano é exportado há mais de cem anos e garantiu posição no mercado mundial. Ele é o rei das oleaginosas", disse Abtahi.
O Irã conseguiu retomar a posição de maior produtor mundial no ano passado, pela primeira vez desde 2008.
Já a safra de 2015 na Califórnia, Estado que responde pela maior parte da produção americana, caiu quase à metade para 124,8 mil toneladas -o total mais baixo em quase uma década- devido a condições climáticas ruins.
A queda na oferta elevou o preço do pistache californiano a mais de US$ 11 por quilo, permitindo que o Irã desse descontos a compradores internacionais, especialmente a China, maior importador.
"O Irã está vendendo pistache à China por preços entre US$ 1,70 e US$ 2,20 mais baixos por quilo", diz Richard Matoian, diretor da associação americana de produtores.
A Europa é outro grande mercado no qual o Irã pode avançar. Ainda que o pistache não estivesse sujeito a sanções na Europa, as restrições a transações bancárias e transporte dificultavam.
A questão crucial para a importação iraniana era o nível de aflatoxina, substância venenosa gerada por mofo, que levou varejistas e distribuidores de oleaginosas a adotar a versão californiana. Mesmo assim, com a alta no preço do pistache dos EUA, alguns executivos acham que o ingresso do pistache iraniano será encorajado.
A questão é se os iranianos serão capazes de avançar no mercado dos EUA.
Mesmo antes da imposição de sanções pelos americanos, as importações de pistache iraniano estavam sujeitas a tarifas antidumping de cerca de 300%. Com a retirada das sanções, autoridades americanas avaliarão se devem reter a tarifa.
Mesmo que seja abandonada, restam ambiguidades nas questões bancárias e de pagamento, dizem advogados. Ainda que restrições tenham sido removidas, as sanções primárias dos EUA continuam em vigor, o que significa que cidadãos continuam proibidos de investir em transações comerciais com o Irã e bancos americanos estão proibidos de compensar transações relacionadas ao país.
Tradução de PAULO MIGLIACCI