quinta-feira, 8 de outubro de 2015

TCU – A derrota, o óbvio e a solidão ensimesmada dos chefes… Ou: Dilma precisa de derrota na veia

Com Blog Reinaldo Azevedo - Veja


No dia seguinte à maior derrota sofrida pelo petismo em 13 anos — a recomendação do TCU, por unanimidade, para que o Congresso rejeite as contas do governo relativas a 2014 —, o Planalto decidiu pôr a bola no chão, baixar a temperatura do confronto e recobrar um mínimo de juízo. É sempre assim depois que leva uma tunda. Até bater a síndrome de abstinência e precisar tomar na veia uma nova dose de derrota. Nunca se viu nada igual.
Nesta quinta, Jaques Wagner, ministro da Casa Civil, afirmou que o governo agora vai lutar é no Congresso para tentar fazê-lo rejeitar o relatório do TCU. Pois é… Não foi o que escrevi aqui? Que era esse o lugar da batalha? Mas sabem como é… Ao longo da vida, aprendi que costuma haver uma relação diretamente proporcional entre incompetência e arrogância.
Também Luís Inácio Adams, o advogado-geral da União, decidiu moderar o tom. Recuou de declaração anterior e afirmou nesta quinta que, por enquanto, o governo não vai recorrer ao STF:
“Agora, nós vamos ao Congresso evidentemente fazer esse debate, existe o espaço técnico também, não é só político, pressupõe análises, pareceres etc. E aí o processo vai correr. Agora, o que nós tivemos foi uma etapa desse processo. Nenhum advogado perde um processo por perder um recurso”.
Bem, se era assim, então por que aquele carnaval todo, arguindo a suspeição de um ministro e tentando, a todo custo, deslegitimar o julgamento?
Há muito tempo tenho escrito aqui que o governo se descolou da realidade — e, nesse particular, entenda-se por “governo” a própria presidente Dilma Rousseff.
Já conversei com ex-ministros de pelo menos cinco ex-presidentes. Exceção feita aos de FHC, foram unânimes em apontar o que eu chamaria de solidão ensimesmada do chefe nos momentos de extrema dificuldade. Ou por outra: a relutância em reconhecer o tamanho da dificuldade, o que conduz a respostas erradas.
Uma nota: sobre o tucano, o que me disseram foi outra coisa. Corria o risco de subestimar certas crises não porque se fechasse num casulo, mas por transformar a dificuldade numa questão abstrata, com uma resposta lógica, mas não necessariamente prática. É claro que não é fácil estar naquela cadeira. Muito melhor, em vários aspectos, é a nossa, a dos analistas, a dos críticos.
Ocorre que há situações que são de uma obviedade escandalosa. E esse é o ponto que chamou a atenção nesse episódio do TCU. Era tão evidente que o governo cavava uma derrota inédita que é espantoso que ninguém tenha decidido pôr um fim à insensatez.
O fato é que não pôs.