domingo, 4 de outubro de 2015

Em reestruturação, depois do 'ataque' da quadrilha Lula-Dilma, Eletrobras venderá parte das subsidiárias

Danilo Fariello e Bruno Rosa - O Globo



À venda. Sede da Eletrobras no Rio: estatal estuda ativos para reduzir - Nadia Sussman / Bloomberg


No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico e com negócios sob investigação na Operação Lava-Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em setores onde o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão. Na quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recebeu da consultoria Roland Berger levantamento dos ativos que poderiam ser colocados à venda. Participações da Eletrobras e suas subsidiárias estão no radar.

— Estamos trabalhando em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 Sociedades de Propósito Específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito — disse o ministro ao GLOBO.

CELG: VALOR ESTIMADO DE R$ 8 BI


Além dessas participações, a Eletrobras planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor de mercado estimado em R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas, ou pelo menos parte dos ativos: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a CERR, de Roraima, onde a Eletrobras tem apenas participação.

— O Brasil está à venda. O grande problema dessas distribuidoras é má gestão da Eletrobras, que sofre com indicações políticas. Mas são empresas interessantes com um grande mercado e que vão dar retorno a seus investidores. A Equatorial, por exemplo, comprou a distribuidora do Maranhão e a do Pará, e as empresas já são lucrativas. O mesmo vai ocorrer com a Energisa, que comprou o Grupo Rede, que estava sob intervenção,e agora já se fala até em dividendos — diz Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ.

A estratégia do governo é começar a se desfazer dos ativos da Eletrobras menores, como usinas eólicas, pequenas hidrelétricas e linhas de transmissão curtas. Isso porque são considerados ativos mais líquidos e com demanda garantida, conforme revelaram leilões recentes, segundo uma fonte do governo.

Na quarta-feira, o ministro Eduardo Braga recebeu o presidente do conselho da Eletrobras e atual diretor de Infraestrutura do BNDES, Wagner Bittencourt, para tratar da venda da Celg e debater o relatório da Roland Berger. Segundo Braga, o governo ainda espera procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para vender a distribuidora goiana.

APETITE CHINÊS

Mais do que arrecadar recursos para a União, a venda de ativos do setor elétrico visa a reduzir o endividamento da Eletrobras e fortalecê-la financeiramente nas áreas em que o governo considera fundamental a presença forte da estatal. Essa seria uma alternativa para resolver os problemas de caixa dentro da própria empresa, uma vez que o acesso a financiamentos ficou mais restrito, disse uma fonte.

Segundo especialistas, as distribuidoras vão atrair interesse dos investidores estrangeiros, sobretudo, os chineses.

— Os grandes concorrentes serão os chineses até por causa do dólar — lembra Nivalde, explicando que os grupos nacionais estão sem caixa para investir nesses projetos.

Procurada para comentar suas projeções de investimentos e vendas de ativos, a Eletrobras limitou-se a enviar fato relevante sobre o Plano de Negócios 2015 a 2019, aprovado em 31 de julho, e informou que “qualquer comentário adicional será feito em comunicado ao mercado quando necessário”.