O Globo
Reportagem da revista Época mostra que dirigente movimentou quase R$ 500 milhões quando organizou Copa de 2014
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira por quatro crimes: lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público. Segundo reportagem no site da revista Época, Teixeira movimentou em sua contas R$ 464,56 milhões no período em que foi presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, entre os anos de 2009 e 2012.
ESCÂNDALO NA FIFA: Investigação chega a Jérôme Valcke
A revista teve acesso a um relatório da Polícia Federal produzido em janeiro deste ano, época do indiciamento de Teixeira. No relatório consta que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, a unidade de inteligência financeira do governo federal, apurou a movimentação nas contas de Teixeira e as considerou "atípicas". Ainda de acordo com a PF, o levantamento do Coaf aponta que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para poder comprar um apartamento no Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com a PF, o relatório do Coaf aponta que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para poder comprar um apartamento no Rio de Janeiro. Ao analisar os documentos, a PF constatou que o ex-dirigente da entidade máxima do futebol brasileiro “não teria como justificar os valores envolvidos na aquisição” e por isso trouxe dinheiro de fora do país.
MAIS INVESTIGAÇÕES NA PF
Um levantamento feito pelo GLOBO revela que Ricardo Teixeira é alvo de outras investigações na Polícia Federal do Rio. Na Justiça Federal há tramitando ao menos dois outros processos, movidos pela Fazenda Pública, em que o nome do dirigente aparece. Teixeira seria sócio de três empresas localizadas no Rio, alvos de duas ações de execução fiscal e que ainda tramitam na primeira instância.
Um terceiro processo, este movido pela CBF, contesta auto de infração lavrado pela Receita Federal.O fisco multou a confederação depois que ela não recolheu contribuição previdenciária sobre valores desembolsados na compra de passagens aéreas para jogadores de futebol que disputavam partidas das séries B e C do Campeonato Brasileiro,
da Copa do Brasil e da Copa Centro-Oeste. A CBF, na época dirigida por Teixeira, recorreu e entrou com recurso pedindo em liminar a suspensão do auto de infração. A liminar foi negada, mas a confederação sustenta em sua apelação à segunda instância da Justiça Federal (TRF2) que os valores pagos "não se referiram a recursos de patrocínio, mas sim a uma doação feita aos clubes".
NA TRAJETÓRIA DE TEIXEIRA, OUTRAS DENÚNCIAS
Nos 23 anos em que presidiu a CBF, Ricardo Teixeira conviveu com muitas acusações. Foi alvo de duas CPIs, acusado de prejuízos aos cofres públicos, evasão de divisas e de recebimento de propinas, com outros dirigentes da Fifa.
Em 1994, um caso em especial chamou a atenção: na volta ao Brasil, após a conquista da Copa do Mundo dos Estados Unidos, o dirigente declarou na bagagem uma sela de cavalo e uma geladeira. No entanto, importou um sistema de refrigeração de chope e, em 2009, acabou condenado por prejuízos aos cofres públicos. A sentença foi derrubada em 2011.
Pela seleção, o emblemático contrato de patrocínio com a Nike originou a abertura de uma CPI na Câmara dos Deputados, pouco após a perda da Copa do Mundo de 1998, na França. Ao mesmo tempo, a CBF era acusada de financiar campanhas políticas. A chamada "Bancada da Bola" no Congresso impediu a votação de um relatório da CPI que pedia o indiciamento de 31 pessoas ligadas ao futebol, dentre elas Teixeira.
Mais tarde Teixeira voltou a encarar denúncias pelo envolvimento com a ISL, antiga parceira de marketing da Fifa. A empresa foi acusada de pagar propinas a dirigentes da organização, entre os quais Teixeira e João Havelange, seu ex-sogro, que comandou a entidade máxima do futebol mundial de 1974 a 1998.
Já em dezembro de 2011, novo escândalo com o nome de Teixeira, desta vez envolvendo um amistoso do Brasil contra Portugal, em 2008, em Brasília. Teria custado R$ 9 milhões — pagos pelo governo do Distrito Federal, então comandado por José Roberto Arruda, à empresa Ailanto, da qual Sandro Rosell, presidente do Barcelona, era sócio.
Rosell, inclusive, teria depositado R$ 3,8 milhões, em junho de 2011, em uma conta bancária no nome da filha mais nova de Teixeira, hoje adolescente. O ex-presidente da CBF sempre negou as acusações.