segunda-feira, 1 de junho de 2015

Polícia Federal indicia ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira por quatro crimes

O Globo

Reportagem da revista Época mostra que dirigente movimentou quase R$ 500 milhões quando organizou Copa de 2014



O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira - Arquivo / REUTERS


A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira por quatro crimes: lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público. Segundo reportagem no site da revista Época, Teixeira movimentou em sua contas R$ 464,56 milhões no período em que foi presidente do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, entre os anos de 2009 e 2012.


A revista teve acesso a um relatório da Polícia Federal produzido em janeiro deste ano, época do indiciamento de Teixeira. No relatório consta que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, a unidade de inteligência financeira do governo federal, apurou a movimentação nas contas de Teixeira e as considerou "atípicas". Ainda de acordo com a PF, o levantamento do Coaf aponta que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para poder comprar um apartamento no Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com a PF, o relatório do Coaf aponta que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para poder comprar um apartamento no Rio de Janeiro. Ao analisar os documentos, a PF constatou que o ex-dirigente da entidade máxima do futebol brasileiro “não teria como justificar os valores envolvidos na aquisição” e por isso trouxe dinheiro de fora do país.

Ricardo Teixeira foi intimado várias vezes em 2014 para dar explicações no inquérito, mas não compareceu, alegando que estava viajando. Seus advogados, entretanto, tiveram acesso à investigação.


MAIS INVESTIGAÇÕES NA PF


Um levantamento feito pelo GLOBO revela que Ricardo Teixeira é alvo de outras investigações na Polícia Federal do Rio. Na Justiça Federal há tramitando ao menos dois outros processos, movidos pela Fazenda Pública, em que o nome do dirigente aparece. Teixeira seria sócio de três empresas localizadas no Rio, alvos de duas ações de execução fiscal e que ainda tramitam na primeira instância.

Um terceiro processo, este movido pela CBF, contesta auto de infração lavrado pela Receita Federal.O fisco multou a confederação depois que ela não recolheu contribuição previdenciária sobre valores desembolsados na compra de passagens aéreas para jogadores de futebol que disputavam partidas das séries B e C do Campeonato Brasileiro, 
da Copa do Brasil e da Copa Centro-Oeste. A CBF, na época dirigida por Teixeira, recorreu e entrou com recurso pedindo em liminar a suspensão do auto de infração. A liminar foi negada, mas a confederação sustenta em sua apelação à segunda instância da Justiça Federal (TRF2) que os valores pagos "não se referiram a recursos de patrocínio, mas sim a uma doação feita aos clubes".

NA TRAJETÓRIA DE TEIXEIRA, OUTRAS DENÚNCIAS

Nos 23 anos em que presidiu a CBF, Ricardo Teixeira conviveu com muitas acusações. Foi alvo de duas CPIs, acusado de prejuízos aos cofres públicos, evasão de divisas e de recebimento de propinas, com outros dirigentes da Fifa.

Em 1994, um caso em especial chamou a atenção: na volta ao Brasil, após a conquista da Copa do Mundo dos Estados Unidos, o dirigente declarou na bagagem uma sela de cavalo e uma geladeira. No entanto, importou um sistema de refrigeração de chope e, em 2009, acabou condenado por prejuízos aos cofres públicos. A sentença foi derrubada em 2011.

Pela seleção, o emblemático contrato de patrocínio com a Nike originou a abertura de uma CPI na Câmara dos Deputados, pouco após a perda da Copa do Mundo de 1998, na França. Ao mesmo tempo, a CBF era acusada de financiar campanhas políticas. A chamada "Bancada da Bola" no Congresso impediu a votação de um relatório da CPI que pedia o indiciamento de 31 pessoas ligadas ao futebol, dentre elas Teixeira.

Mais tarde Teixeira voltou a encarar denúncias pelo envolvimento com a ISL, antiga parceira de marketing da Fifa. A empresa foi acusada de pagar propinas a dirigentes da organização, entre os quais Teixeira e João Havelange, seu ex-sogro, que comandou a entidade máxima do futebol mundial de 1974 a 1998.

Já em dezembro de 2011, novo escândalo com o nome de Teixeira, desta vez envolvendo um amistoso do Brasil contra Portugal, em 2008, em Brasília. Teria custado R$ 9 milhões — pagos pelo governo do Distrito Federal, então comandado por José Roberto Arruda, à empresa Ailanto, da qual Sandro Rosell, presidente do Barcelona, era sócio.

Rosell, inclusive, teria depositado R$ 3,8 milhões, em junho de 2011, em uma conta bancária no nome da filha mais nova de Teixeira, hoje adolescente. O ex-presidente da CBF sempre negou as acusações.