sexta-feira, 22 de maio de 2015

Dólar ganha força e sobe 1,51% após discurso da presidente do Fed

ANA PAULA RIBEIRO - O GLOBO

No mercado de ações, bancos e Petrobras caem forte e derrubam a Bolsa



O aumento de impostos para o setor financeiro e a expectativa do anúncio dos cortes no Orçamento pressionam a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nesta sexta-feira. O índice de referência Ibovespa operava, as 15h56, em queda de 1,51%, aos 54.133 pontos, com as ações de bancos e da Petrobras caindo de forma significativa. Já o dólar comercial ganhou força após as declarações da presidente do Federal Reserv (Fed, o bc americano), Janet Yellen. A moeda americana era cotada a R$ 3,088 na compra e a R$ 3,090 na venda, valorização de 1,51% ante o real.
O comportamento do dólar no Brasil segue o movimento global da moeda. Segundo o “dollar index”, que tem como base uma cesta de dez moedas e é calculado pela Bloomberg, a alta da moeda americana é de 0,97%. O movimento de valorização ganhou força após o discurso da presidente do Fed, que afirmou que os dados econômicos vão se fortalecer.
Há também a volta da preocupação com a Grécia, que ajuda a fortalecer o dólar.
No campo interno, a preocupação é com o ajuste fiscal. “Vale lembrar que continuamos com um viés de incerteza sobre o ajuste fiscal e hoje teremos a definição por parte do governo federal sobre o corte no orçamento deste ano, fatores estes, que podem adicionar volatilidade em nosso mercado cambial”, afirmou Jefferson Luiz Rugik, economista da Correparti Corretora de Câmbio.

BANCOS CAEM FORTE

Na Bolsa, o assunto de maior destaque no pregão é o aumento, de 15% para 20%, da alíquota da Contribuição Social para o Lucro Líquido (CSLL) incidente sobre o setor financeiro. Na avaliação de Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora, essa mudança da tributação já era esperada e já tinha provado a queda no preço das ações do setor.

As ações preferenciais (PNs) do Itaú Unibanco registram queda de 1,88% e os do Bradesco recuam 2,08%. Já no caso do Banco do Brasil, a queda é de 2,68% e no Santander, de 2,03%.

— O setor já vinha apanhando há alguns dias por causa do rumor de aumento da alíquota, que hoje se confirmou. Como já era esperado, a queda neste pregão deve ser mais limitada. No entanto, essa majoração da alíquota acaba contaminando o índice, já que é um setor com peso significativo na carteira teórica do Ibovespa — afirmou Monteiro.

Nas contas da Yield Capital, os tributos passarão a representar 45% dos resultados do setor financeiro, ante 34% de outros segmentos da economia brasileira. "Porém, vale lembrar que durante os últimos dias várias matérias na imprensa falavam sobre esse aumento de imposto, logo, não é uma surpresa. O estimado é que essa medida aumente a arrecadação em aproximadamente R$ 4 bilhões em 2016", avaliaram, em relatório a clientes.

A expectativa dos analistas é que o aumento de impostos seja compensando, em parte, pelo maior uso de créditos tributários. A estimativa é que os grandes bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) tenham cada um entre R$ 25 bilhões e R$ 40 bilhões nesses créditos, que poderiam ser acionados. Além disso, a Yield Capital espera alguma alteração no Juros sobre o Capital Próprio (JCP) que é um dos proventos pagos a acionistas de companhias abertas.

Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que não vai se pronunciar sobre a mudança.

MAU HUMOR NA BOLSA

Além do aumento da alíquota da CSLL, outras ações com peso importante no Ibovespa operam em queda. O mau humor está atrelado ao ambiente de incerteza política, com as dúvidas em relação ao ajuste fiscal e ao corte do Orçamento, mas também há fatores externos. O aumento da inflação nos Estados Unidos foi entendido por analistas como um sinal de recuperação da economia americana, levantando novamente a expectativa de aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o bc americano).

No caso da Petrobras, as ações preferenciais registram queda de 3,49%, cotadas a R$ 12,98, e as ordinárias (ONs, com direito a voto) recuam 2,98%, a R$ 13,99. Os papéis da estatal são afetados pelo recuo no preço do petróleo no mercado internacional. Segundo operadores, a maior parte das vendas dos papéis da estatal está sendo feito pela corretora do Merrill Lynch, indicando que o movimento de venda é liderado por investidores estrangeiros.

Já no caso da Vale, a situação é contrária, já que a cotação do minério de ferro na China subiu 4% nesta sexta-feira. As PNs da mineradora sobem 0,89% e as ordinárias têm leve alta de 0,29%.

Os sinais de aquecimento na economia americana também têm reflexo nos principais índices de ações globais, mas em uma intensidade menor que no Brasil. O Dow Jones cai 0,19% e o S&P tem pequena variação negativa de 0,03%. Na Europa, o DAX, de Frankfurt, registrou desvalorização de 0,42%, enquanto o FTSE 100, de Londres, subiu 0,26%. O CAC 40, da Bolsa de Paris, ficou praticamente estável (leve desvalorização de 0,07%).