Carlos Eduardo Mansur - O Globo
Cerca de 50 pessoas procuraram o Juizado Especial Criminal do estádio para tentar ver o jogo
Camilo Georges saiu de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, após ter gasto R$ 3.650 em um ingresso para um setor de hospitalidade do Castelão. Na porta do estádio, o prejuízo se somou à frustração. Enquanto esperava o início de Brasil x Colômbia próximo a um bar nas imediações do estádio, um bandido armado levou seu ingresso. Minutos antes do início da quarta de final de ontem, ele e outras 50 pessoas tentavam, no Juizado Especial Criminal do estádio, uma forma de ver o jogo.Poucos tiveram sucesso. Uma onda de assaltos fez dezenas de vítimas.
Alguns, como o estudante cearense Dirceu Pinto, foram assaltados enquanto consumiam em bares ao redor do estádio, montados por patrocinadores oficiais da Fifa.
As reclamações criaram momentos de tensão. O juizado chegou a emitir liminares determinando a reimpressão dos ingressos, já que todos os bilhetes da Copa do Mundo são nominais. Em seguida, informou que a Fifa se recusara a cumprir a determinação, orientando os torcedores a solicitarem ressarcimento posteriormente.
Um grupo de vítimas tentou invadir uma área vip do Castelão. O setor foi cercado e um grupo do Batalhão de Choque chegou para conter a irritação do grupo. A revolta aumentou.
- A gente anda ao redor do Castelão sem nenhum policiamento para conter os bandidos. Para nós, chamam logo o Choque - reclamou a torcedora Cíntia Faria, que viajou de Cuiabá para Fortaleza e, pouco antes de chegar à catraca do estádio, teve seus ingressos retirados do bolso. Ela pagou R$ 660 no bilhete.
Os torcedores foram encaminhados para a delegacia da Polícia Civil do estádio, onde foi feito um Boletim de Ocorrência. Em seguida, com o BO, as vítimas eram levadas para o Juizado Criminal, onde aguardavam uma decisão da juíza de plantão. No entanto, o atendimento era muito demorado.
Com a hora do jogo se aproximando, a revolta aumentou.
Houve quem tivesse um pouco mais de sorte. Foi o caso dos irmãos Renato Souza e Roberto Filho, ambos de Acaraú, no interior do Ceará. A Polícia Militar prendeu, na porta do Castelão, Felipe da Silva Reinaldo, de 26 anos, acusado de ter furtado os bilhetes. Os ingressos tinham o nome dos dois. As vítimas, além disso, tinham anotado o setor e a fileira do estádio em que assistiriam ao jogo. Com isso, puderam entrar.
Uma outra pessoa foi localizada pela Polícia Civil no assento de um dos torcedores furtados. Ele comprara o bilhete de um cambista, provavelmente o mesmo que praticara o roubo. Os receptadores foram retirados do estádio e os proprietários assistiram à partida.
Tais casos foram exceções, no entanto.
- Um homem com uma faca levou o meu ingresso e o da minha esposa. Pagamos R$ 660 em cada um. A gente passa pelo posto de verificação e anda quase um quilômetro até o estádio sem segurança. Um homem com uma faca me assaltou - contou o piauiense Jander Nogueira. - Comprei o ingresso há seis meses. Fiquei este tempo todo esperando o jogo.
O delegado da Polícia Civil, Romero de Almeida, disse que só a Fifa poderia autorizar a entrada das vítimas no estádio.
- Aqui fazemos um Boletim de Ocorrência e encaminhamos para o Juizado. Lá, eles tentam providências junto a advogados da Fifa - disse.