Jornal britânico diz que país tem ‘atitude adolescente de que regras existem para serem quebradas’
BUENOS AIRES - Em sua edição mais recente, o jornal britânico “The Economist” publicou uma ampla reportagem sobre a crise financeira argentina, intitulada “O Luis Suárez das finanças internacionais”. Na opinião do semanário britânico, em sua disputa judicial com os fundos abutres nos tribunais americanos o governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, adotou “essa atitude adolescente de que as regras existem para serem quebradas”, similar a do jogador da seleção uruguaia que ficou famoso depois de ter mordido um jogador italiano.
Na mesma reportagem também foi criticado o presidente do Uruguai, José Mujica, que defendeu Suárez e considerou excessiva a punição aplicada pela Fifa, que expulsou o jogador da Copa. O “em geral sensato presidente do Uruguai”, disse o semanário, “mostrou a mesma atitude adolescente” que o jogador de sua seleção.
O “The Economist” concordou com o argumento da Casa Rosada sobre a insensatez da sentença do juiz de Nova York, Thomas Griesa, que favoreceu os chamados fundos abutres e exigiu que a Argentina pagasse US$ 1,5 bilhão. Para o semanário britânico, esta sentença põe em risco futuras operações de reestruturação de dívida.
No entanto, afirmou, “a esperteza argentina foi uma constante na política econômica do país durante a Presidência de Cristina Fernández de Kirchner e de seu antecessor (Nestor Kirchner). A ideia de que a Argentina podia jogar com suas próprias regras, em vez de jogar com as que regem a economia do mundo inteiro, foi claramente simbolizada na negação por parte do governo do impacto inflacionário de suas políticas expansivas, conseguida através da manipulação dos índices de preços ao consumidor. Enquanto isso, os Kirchner culpavam o FMI por todos os problemas do país”.
O próximo capítulo importante da disputa entre a Argentina e os fundos abutres será na próxima segunda-feira, quando uma missão de negociadores do país se reunirá, em Nova York, com o mediador designado por Griesa, o advogado Daniel Pollack.
A Casa Rosada deve insistir em sua demanda de “condições igualitárias” para negociar, já que não pode oferecer aos abutres nada melhor do que foi concedido aos credores que participaram das operações de reestruturação da dívida do país, em 2005 e 2010.
Caso contrário, será ativada a cláusula Rights Upon Future Offers (Rufo), hoje a principal preocupação do ministro da Economia, Axel Kicillof, que ainda não confirmou se comandará pessoalmente a missão.
Nesta sexta-feira, Kicillof enviou carta ao Banco de Nova York (BoNY), na qual acusa a instituição de ser a principal responsável pelo fato do país não estar honrando seus compromissos com os credores reestruturados. A Argentina enviou mais de US$ 1 bilhão para pagar um vencimento de 30 de junho passado, mas Griesa ordenou que o pagamento fosse retornado ao país, ordem que o BoNY cumpriu.
— Estamos desconcertados — declarou o ministro argentino.