sábado, 31 de maio de 2014

Biografia descreve lado monstruoso de Marlon Brando


    

O jornalista francês François Forestier não se esquece de seu primeiro encontro com Marlon Brando:

"Ele era magnético, elétrico, encantador e, ao mesmo tempo, tinha algo de repulsivo. Eu podia ouvir na minha cabeça: Perigo... perigo... perigo...".

Brando (1924-2004) foi o maior ator de sua época, mas sua vida foi uma sucessão de tragédias. Lindo, seduziu centenas de mulheres e homens, dormiu com metade de Hollywood e destruiu a vida de muita gente.

Uma filha se matou, assim como várias amantes. O filho foi acusado de assassinato. Por onde passou, o ator deixou corações arrasados e vidas despedaçadas. Terminou a vida sozinho, obeso, deitado num sofá, sem receber nem os amigos.

Reuters
O ator Marlon Brando em cena do filme 'O Selvagem' (1953), com direção de Laszlo Benedeck
O ator Marlon Brando em cena do filme 'O Selvagem' (1953), com direção de Laszlo Benedeck

François Forestier, crítico de cinema da revista francesa "Le Nouvel Observateur", levou dois anos para escrever "Marlon Brando - A Face Sombria da Beleza", uma biografia curta e arrasadora sobre o ator que mudou o cinema.

O livro foi gestado durante três décadas, durante as quais ele entrevistou dezenas de amigos do ator.
"Brando era extraordinariamente sedutor, e cada testemunha estava feliz em compartilhar suas histórias comigo. Este homem tinha tantas amantes que o livro poderia parecer um catálogo telefônico."

Brando, diz Forestier, era um ator incomparável e uma pessoa abominável, um monstro. "Mas me interesso por monstros, acho que eles são nosso verdadeiro lado humano. Tentei revelar a monstruosidade do mundo dele."

O autor diz que ficou impressionado com a forma egoísta com que Brando tratava mulheres e filhos. "Ele simplesmente não se importava com ninguém. Brando era um monstro do ego, um monstro de infelicidade, um poço de solidão, sem bússola moral, sem senso de direção", diz.

"Nos últimos anos de sua vida, estava apenas se inclinando sobre a autodestruição, arrastando todos os seus filhos. Algumas pessoas sonham com a criação de um mundo em chamas. Brando sonhou em fazê-lo desaparecer num buraco negro."

Forestier descreve os filmes estrelados por Brando, e é curioso perceber como o grande ator de obras-primas como "Sindicato de Ladrões" (1954) e "O Poderoso Chefão"(1972) também se meteu em abacaxis.

"O mito de Brando é tão esmagador que ele se torna mais importante que seus filmes. A verdade é que um bom ator está no seu melhor em filmes ruins. Sua arte transcende tudo. Se você gosta de Brando, esquece os abacaxis que estrelou."

Até hoje, diz o jornalista, não há ator que se compare a ele. "Há um período 'antes de Brando', e 'depois de Brando'. Ninguém está nessa liga hoje em dia. Ele era o deus dos atores, e o diabo também."


MARLON BRANDO - A FACE SOMBRIA DA BELEZA

AUTOR François Forestier

TRADUÇÃO Clóvis Marques

EDITORA Objetiva

QUANTO R$ 29,90 (200 págs.)

Marlon Brando

 
Associated Press
Marlon Brando em teste para o filme "Rebelde sem Causa" (1955)
 
  • Philippe Halsman/National Portrait Gallery/Associated Press
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    O ator Marlon Brando, em foto de 1950
     
    Reprodução
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    O ator Marlon Brando em cena do filme "Um Bonde Chamado Desejo" (1951)
     
    Reuters
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    O ator Marlon Brando em cena do filme "O Selvagem" (1953), com direção de Laslo Benedeck
     
    Divulgação
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    Marlon Brando (em pé) em cena do filme "Julio César" (1953), do diretor Joseph L. Mankiewicz
     
    Divulgação
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    Marlon Brando como Valentine Xavier em cena do filme "Vidas em Fuga" (1959)
     
    Marlon Brando (como Valentine Xavier) e Anna Magnani (Lady Torrance) em cena do filme "Vidas em Fuga" (1959)
     
    Marlon Brando persegue a atriz Maria Schneider em cena do filme "Último Tango em Paris" (1972)
     
    Divulgação
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    Marlon Brando como Don Vito Corleone em cena do filme "O Poderoso Chefão" (1972)
     
    Divulgação
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    Marlon Brando vive o coronel Walter E. Kurtz em cena de "Apocalypse Now" (1979), dirigido por Francis Ford Coppola
     
    Marlon Brando em cena do filme "Um Novato na Máfia" (1990)
     
    Danny Feld - 5.abr.1996/Associated Press
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    Ator Marlon Brando entrevistado no programa de televisão de Larry King
     
    Beth A. Keiser - 7.set.2001/Associated Press
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    Marlon Brando fala durante show de Michael Jackson, no Madison Square Garden, em Nova York
     
     
     
     

    Brasil já gastou quase R$ 3 bilhões em operação militar no Haiti

    O Brasil já gastou R$ 2,7 bilhões na missão do Haiti. O valor inicial previsto era de R$ 150 milhões para uma operação emergencial de seis meses, mas que acabou sendo renovada ano após ano. O total não inclui salários, pagos pelo orçamento normal do Ministério da Defesa. Também não é contabilizada a aquisição de equipamentos para uso no Haiti. Como tudo no Brasil está resolvido, saúde, educação, segurança, infraestrutura... nada de mais esbanjar a grana dos nossos impostos. Pergunta se o Haiti melhorou com a nossa presença lá... Leia mais http://migre.me/jvm9V

    Obama diz que Hillary seria presidente 'muito eficiente'

    Veja

    Mandatário elogiou a ex-secretária de Estado e se diz "abençoado" por ter trabalhado ao seu lado

     
    Obama e Hillary Clinton durante discurso na manhã desta quarta-feira na Casa Branca, sobre a morte de embaixador americano na Líbia
    Obama e Hillary Clinton durante discurso na Casa Branca (MANDEL NGAN / AFP)

    O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse em entrevista ao programa de televisão Live With Kelly and Michael nesta sexta-feira que sua colega de partido Hillary Clinton seria uma presidente "muito eficiente", caso ela decida disputar as eleições de 2016.

    Segundo Obama, os dois são amigos e ele a admira há muito tempo. Na quinta-feira, Hillary jantou com Obama na Casa Branca.

    Obama, que disputou com Hillary a indicação do Partido Democrata para concorrer à presidência dos Estados Unidos em 2008, afirmou que ela não poderia ter sido mais competente e leal como secretária de Estado, cargo que ocupou no primeiro mandato do atual presidente. Ele se disse "abençoado" por ter trabalhado ao lado de Hillary e do vice-presidente, Joe Biden, além do chefe de gabinete, Denis McDonough.

    (Com Estadão Conteúdo)

    Casa de ‘Curtindo a Vida Adoidado’ é vendida por R$ 2,3 milhões

    Veja

    O valor é menos da metade do que foi pedido há cinco anos, quando a residência foi colocada à venda

    O ator Matthew Broderick em cena do filme 'Curtindo a Vida Adoidado'
    O ator Matthew Broderick em cena do filme 'Curtindo a Vida Adoidado' (Divulgação)

    Após cinco anos no mercado, a casa de vidro do filme Curtindo a Vida Adoidado (1986) conseguiu um comprador que pagou um preço considerado uma pechincha pela famosa residência: 1,06 milhões de dólares (cerca de 2,3 milhões de reais). O valor é menos da metade dos 2,35 milhões de dólares (cerca de 5,27 milhões de reais) pedidos inicialmente. As informações são do site Chicago Business.

    ​No filme, a residência é propriedade do pai de Cameron (Alan Ruck), melhor amigo do protagonista Ferris (Matthew Broderick). Uma das cenas mais lembradas do longa acontece no local, quando Cameron ataca a superprotegida Ferrari da família e o veículo “voa” por uma das paredes de vidro e cai em uma encosta.

    Segundo a revista americana Chicago Magazine, a casa, localizada em Highland Park, estaria com a estrutura danificada em vários cômodos, o que dificultou a realização da venda. Outro empecilho seria a divisão da construção em dois módulos que não possuem uma passagem física fechada entre si, um problema para uma cidade com inverno rigoroso.

    Divulgação Coldwell Banker
    Casa do filme 'Curtindo a Vida Adoidado'

    “O que vendeu a casa não foi a fama da propriedade, mas sim sua arquitetura”, diz o corretor Craig Hogan, que afirma que fãs do filme costumam visitar o local para ver o espaço de onde a Ferrari foi lançada. “Vendemos a residência para um casal de arquitetos que querem reformar o local.”

    Confira abaixo a cena do filme gravada na casa:



    Dilma nomeia, mas Pelé não vira a 'face do Brasil na Copa'

    Lauro Jardim - Radar - Veja

    Cadê o embaixador?


    Pelé Dilma
    Pelé de fora

    Em 2011, Dilma Rousseff nomeou Pelé, com decreto e tudo, embaixador do Brasil na Copa.

    Representaria o país em eventos e participaria de conversas com a FIFA e os países participantes.

    Como disse Dilma na ocasião, seria “a face do Brasil na Copa”.

    Alguém por aí viu Pelé fazer algo parecido com isso desde o ano passado?

    Questões financeiras afastaram Pelé do projeto.

    Aeroportos da Copa: testados e reprovados pela PF

    Leslie Leitão - Veja

    Relatórios reservados da Polícia Federal informam que na maior parte dos aeroportos brasileiros a segurança nos guichês de imigração e em áreas restritas está abaixo da crítica

     
     
     
    Além das filas e dos atrasos, aeroportos também preocupam pela falta de segurança
    Além das filas e dos atrasos, aeroportos também preocupam pela falta de segurança (ALE SILVA/FUTURA PRESS)


    A poucos dias do início da Copa do Mundo, os aeroportos brasileiros já começam a maltratar os turistas que vêm ver os jogos. Mesmo remendados para se adequarem às exigências da Fifa, o que se prevê são filas e a desinformação de sempre — tudo potencializado pela explosão da demanda.

    Estima-se que 600.000 turistas estrangeiros circulem por esses locais durante o Mundial. Mas, além dos gargalos mais conhecidos por quem costuma percorrer os tortuosos caminhos dos aeroportos brasileiros, há outro, menos visível, que vem afligindo autoridades em Brasília: a falta de segurança nas portas de entrada do país.

    Oficialmente, a Polícia Federal garante que está tudo sob controle. Dois relatórios reservados da própria PF, porém, mostram a distância entre a realidade e a versão oficial. Um dos documentos descreve os resultados dos testes de segurança realizados em dezesseis aeroportos. Catorze foram reprovados em mais de 50% dos itens analisados. O segundo relatório trata apenas do Galeão, no Rio de Janeiro, e é bastante didático quanto à extensão do descalabro: não raro, traficantes armados perambulam por ali em áreas restritas, informa o texto.

    VEJA teve acesso ao documento de dezembro de 2012 que traz à luz o atoleiro de notas vermelhas na área da segurança. Naquele ano, os aeroportos que pior se saíram na avaliação da PF foram precisamente os que terão maior movimento na Copa: Congonhas foi reprovado em 85% dos itens; Galeão, em 75%; Confins, em 70%; e Guarulhos, em 69%. Em um dos testes, agentes disfarçados conseguiram facilmente embarcar simulacros de artefatos explosivos em bagagens de voos internacionais. Entrar em áreas proibidas com credenciais irregulares tampouco foi um problema.

    Uma peneira federal
    UMA PENEIRA FEDERAL – Documentos a que VEJA teve acesso expõem a vulnerabilidade dos aeroportos do país: um deles mostra a facilidade com que policiais disfarçados colocaram simulacros de explosivos em bagagens de voos internacionais; outro revela que traficantes chegam a roubar até cabos dentro do Galeão

    O exercício se repetiu no fim do ano passado, dessa vez em todos os aeroportos da Copa, e só serviu para enfatizar o que já havia sido constatado. “Nada mudou. É uma bagunça generalizada”, afirma um policial que integrou a equipe. Entre as constatações, descobriu-se uma zona de sombra que ameaça um ponto-­chave da segurança: a fiscalização dos passaportes. Faltam agentes para realizar a tarefa e, segundo o relato de mais de uma dezena de policiais ouvidos em quatro grandes aeroportos, o sistema de computadores da imigração, por causa da manutenção precária, funciona com extrema lentidão — quando funciona.

    “Operamos a maior parte do tempo off-­line, recolhendo apenas o formulário de entrada. Do contrário, as filas seriam intermináveis”, diz um delegado da PF.

    “É o que chamamos de abrir a porteira.” Sem o sistema, os agentes trabalham no escuro, ignorando se o turista que deixaram entrar é, por exemplo, um terrorista procurado.

    Com os jatinhos particulares — e milhares deles estão prestes a pousar em terreno brasileiro — a situação se agrava ainda mais. Nesses casos, os viajantes nem sequer costumam passar pelos guichês da imigração. “É o piloto quem informa o número de passageiros pelo rádio e encaminha os passaportes. Se quiser, ele poderá omitir a presença de uma pessoa e ela entrará clandestinamente no país, na maior tranquilidade”, conta um experiente funcionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

    A fiscalização precária não se limita ao espaço aéreo — a peneira furada é a dura realidade também nos portos do país. A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) estima que 23 000 turistas desembarcarão no Rio de Janeiro, em Santos e em Salvador por estes dias. No Porto do Rio, a conferência da documentação dos cerca de 3 000 passageiros de cada embarcação caberá a dois ou, no máximo, três agentes. “Entramos no navio e registramos a pilha de passaportes que nos entregam. Não chegamos nem a ver as pessoas, quanto mais saber se todas foram contabilizadas”, relata um agente.

    Segundo aeroporto mais movimentado do país, o Galeão mereceu um relatório à parte por causa de uma característica singular: ele está circundado de favelas tomadas por bandidos que agem não só nas suas imediações, mas também no seu interior. O vaivém dos traficantes não se dá nos saguões, mas em áreas menos visíveis, onde praticamente inexiste vigilância. O relatório mapeia oito pontos especialmente vulneráveis.

    Em alguns deles, os bandos se infiltram para surrupiar cabos, crime contumaz no local e uma das causas dos apagões que a toda hora deixam o Galeão às escuras.

    Numa via que leva à área de apoio do aeroporto, a investigação flagrou uma solitária cancela desativada.

    “Há acesso irrestrito a qualquer veículo, tornand­o-se um potencial alvo de atentados”, conclui o texto. Para reforçar o contingente durante a Copa com policiais de outras cidades, a PF está oferecendo o dobro do valor das diárias. Pode funcionar por ora, mas é solução temporária. Dado o apito final no Maracanã, a segurança nas portas de entrada do país voltará a ser como antes: padrão Brasil.

    "Ética, violência, vergonha", por Roberto Romano

    O Estado de São Paulo

     
    Na vida coletiva educada importa sobretudo o uso correto do corpo. Um significado relevante da ética reside no termo hexis, palavra grega que indica se o indivíduo tem, ou não, boa postura física ou de caráter. “Caminhar, nadar, todas as espécies de coisas assim são específicas de sociedades determinadas”, ensina o antropólogo Marcel Mauss. O mimetismo que reproduz gestos corporais é adquirido inconscientemente. Mauss notou que as enfermeiras dos Estados Unidos, ao andar, seguiam o molejo das estrelas hollywoodianas. O modelo do cinema foi assumido pelas profissionais, delas extraindo a originalidade somática.

    A imitação irrefletida de atos incorretos gera sociedades em que vigora a guerra de todos contra todos. O péssimo uso dos corpos e de seu habitáculo, o solo comum, transforma o coletivo num inferno. As massas e suas manifestações que resultam em violência física causam temor. Multidões ou indivíduos, no entanto, integram o gênero humano. Todos, sem a disciplina educativa, agem fora do controle racional. Platão aconselha os genitores: se o recém-nascido chora, verifiquem o corpinho. Caso ele grite no dia posterior, fiquem alertas. Se berrar sem motivo grave, ignorem: o tirano está se revelando.

    O filósofo, em As Leis, diz ser preciso ensinar aos jovens a diferença entre a caça ao animal e a perseguição contra outros humanos. A tarefa caberia aos pais, professores, juízes. Nas ruas dominadas por sectários, ou nos shopping centers brasileiros, existe a tirania ruidosa dos que não respeitam a alteridade. Neles, muitos indivíduos se juntam para a caçada, desviam atividades legítimas e democráticas.

    Tempos atrás, a pessoa que me seguia em shopping center paulista advertiu a genitora de uma criança que ali rodopiava aos berros, sem controle. Em vez de acatar o aviso (dado em tom gentil), a mãe vociferou que o alerta vinha de alguém ressentido, porque não percebia “tratar-se de uma inocente”. Segundos depois a inocente esmagou o pé da minha acompanhante e arrancou-lhe a unha. Foi preciso o socorro dos bombeiros para o curativo. A mãe da criança nem sequer pediu desculpas. Foi embora sem receber advertência dos seguranças.

    No mesmo local, em época natalina, uma dama empurrou o ser humano que me acompanhava, jogando o indigitado ao chão. “Desculpa (notemos o uso do verbo, que põe o atingido no papel íntimo ou inferior do tu, sem tratamento civilizado), eu não vi”. Sem ajudar a vítima, ela rosna impropérios como réplica aos reclamos: “Sou de família importante, viajo sempre para Nova York e Paris”, etc. Felizmente, tudo resultou em escoriações menores.

    Ver os demais seres humanos integra o primeiro treino de quem usa o espaço coletivo. “Não vi” é confissão de idiotismo, na semântica da palavra grega “idiota”: o que percebe apenas o seu interesse pessoal. Pelo menos três outros casos similares eu teria para relatar.

    Se as minhas experiências não bastam, vejam o que aconteceu com a notável artista plástica Maria Bonomi e uma amiga em restaurante de shopping paulista. Elas jantavam pacificamente quando, na mesa ao lado, começou o berreiro. Reclamaram e receberam palavrões seguidos de uma garrafa de cerveja despejada sobre suas vestes. Os funcionários nada fizeram para impedir a cacofônica animalidade. Breve a Justiça ouvirá dois indivíduos que urinavam na frente de todo mundo num shopping brasiliense. Certo professor de educação física, ao exigir o necessário decoro, foi por eles atacado. Os agressores causaram-lhe traumatismo craniano e problemas de locomoção. Como sempre, o agredido é acusado pelos indecentes que estão presos, aguardando o pronunciamento dos juízes.

    Todas esses fatos entram na ordem do que é ruim e feio em termos éticos. Os gregos indicavam o sentimento de quem se envergonha com as coisas odiosas usando o termo aidós – pudor, vergonha (cf. Cairn, D.: Aidós, the Psychology and Ethics of Honour and Shame in Ancient Greek Literature). No Brasil a vergonha vem dos belos atos, nunca dos horrendos. Os nossos políticos replicam usos e costumes de uma sociedade que não enrubesce, nas ruas ou nos espaços de elite.

    Egocêntricos, incapazes de ver os demais seres humanos, os desprovidos de respeito cidadão usam o carro como dirigem seu corpo: desobedecem aos sinais e limites de velocidade, desafiam leis, ignoram a preferência do pedestre nas faixas, estacionam em vagas de idosos e deficientes, furam as filas preferenciais. Donos do mundo, nunca recebem sanções negativas da Justiça. Preconceituosos, consideram engraçado ferir gays, negros, judeus, nordestinos. Como integram o grupo dos happy few, ninguém tem coragem de lhes impor decoro e respeito. Pelo mimetismo, seus costumes atrozes abarcam a sociedade, transformando-a em alcateia feia e virulenta.

    Se muitos indivíduos empurram os outros, ameaçam sua integridade física em locais que deveriam ser pacíficos, no trânsito a crueza aumenta exponencialmente, pois os veículos são usados como armas. A covardia impera nas estradas e ruas do País, aço é movido contra carnes frágeis. Com autorização para matar por embriaguez ou estímulo de psicotrópicos, dada a leniência dos poderes públicos, integrantes da sociedade embrutecida matam no Brasil com enorme facilidade. Ainda não aprenderam a distinção entre caça aos bichos e caça aos humanos. As estatísticas de “acidentes” aqui trazem números superiores aos de muitas guerras.

    O mimetismo, retomemos, ocorre sem maiores reflexões. Digamos aos ensandecidos do trânsito que eles são assassinos. Todos ficarão indignados porque fantasiam para si uma integridade corporal e de caráter (hexis) inexistente. O Brasil registrou 56.337 homicídios, o maior índice na feitura do Mapa da Violência. Praticantes do gesto incivil ainda têm a caradura de alardear nojo dos políticos corruptos, de quem são irmãos siameses. O belo e a vergonha não vigoram no solo brasileiro.

    No Paraná, tática do palanque duplo para tentar impedir vitória do Beto Richa no primeiro turno

    José Maria Tomazela - O Estado de São Paulo

    PT da ex-ministra Gleisi Hoffmann e Planalto incentivam candidatura de Roberto Requião (PMDB) para evitar reeleição de Beto Richa (PSDB)

     
    Acompanhada com bastante interesse pelo Palácio do Planalto, a disputa pelo governo do Paraná tem o PMDB como fiel da balança. Embora o ex-governador Roberto Requião já atue como pré-candidato, o partido está dividido e uma ala defende que a convenção de 20 de junho defina pelo alinhamento ao governador Beto Richa (PSDB), que disputará a reeleição. A presença de Requião na cédula eleitoral deixaria a eleição menos polarizada entre o tucano e a ex-ministra da Casa Civil, senadora Gleisi Hoffmann, pré-candidata petista.

    Com o peemedebista no páreo, abre-se uma possibilidade maior de um segundo turno, avaliam políticos locais. Sem Requião, a expectativa é que a eleição para o Palácio Iguaçu fique dividida entre o PT de Gleisi e o PSDB de Richa, com chance do atual governador se reeleger no primeiro turno, garantindo importante votação para o presidenciável de seu partido, senador Aécio Neves (MG).

    Por isso, no sexto maior colégio eleitoral do País, com 7,7 milhões de eleitores, a presidente Dilma Rousseff espera e trabalha para contar com dois palanques. Parte da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa, porém, vai propor na convenção do partido uma aliança local com o PSDB. O PMDB indicaria o candidato a vice.

    Na quinta-feira passada, um dia depois de se reunir com Dilma, o vice-presidente da República, Michel Temer, viajou para Curitiba na companhia de Requião para encontro com peemedebistas. Não há pesquisa recente sobre intenções de voto no Paraná. A última, feita pelo Instituto Paraná Pesquisas e publicada em dezembro de 2013 pelo jornal Gazeta do Povo, apontava Beto Richa na liderança com 42%, seguido por Gleisi com 23% e Requião com 19%.

    Na dúvida, os petistas articulam com outros partidos para garantir a presença de mais candidatos na disputa do primeiro turno. Caso o nome de Requião não seja homologado, o PPS deve sair com candidato próprio no Estado – o nome cotado é o do deputado federal Rubens Bueno. O cenário de incertezas levou o PT a manter o posto de vice em aberto para uma possível composição. Há diálogo com o PDT, PC do B, PP e PR.

    Efeito Vargas. Uma preocupação imediata do partido é evitar que os desdobramentos da Operação Lava Jato virem munição para adversários na futura campanha. As ligações do deputado André Vargas com o doleiro Alberto Youssef, preso na operação que apura esquema bilionário de lavagem de dinheiro, trouxe desconforto à pré-candidatura da ex-ministra. Vargas, pressionado pela direção da legenda, se desfiliou do PT, mas era cotado para coordenar a campanha de Gleisi no Estado.

    Mas o discurso do governador Beto Richa vai por outro caminho. Ao Estado, o tucano acusa o governo federal de “estrangular” o Paraná, com a retenção de verbas. “Somos o 5.º maior contribuinte em receitas para o governo federal, mas no recebimento de repasses somos o 23.º”, afirmou. Questionado sobre os autores do boicote, ele afirma apenas “aquele casal” – numa referência a Gleisi e seu marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

    O PT, por sua vez, pretende atacar a administração de Richa afirmando que ele se elegeu prometendo um choque de gestão no Paraná e nada fez, segundo o presidente estadual do partido, Ênio Verri. “Enquanto falta combustível para viaturas da polícia e obras estão atrasadas por falta de pagamento, o governador aumentou em 600% o gasto com publicidade e elevou em 417%, em três anos, a folha de pagamento dos cargos políticos.”

    Em pré-campanha desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou publicamente seu nome, Gleisi não perde a oportunidade para fustigar o rival. Quando Richa pôs em leilão uma área de floresta com 12 mil hectares, no início do mês, a petista emitiu nota alegando que “leiloar o patrimônio ambiental do paranaense é um erro”. Ela ainda atacou a gestão do governador. “O descompasso entre despesas e receitas nas contas públicas sob a gestão da atual administração – a verdadeira causa da grande crise do governo – não pode continuar comprometendo o futuro dos paranaenses.”

    Richa diz que a indústria no Paraná cresceu a uma taxa de 5% nos últimos anos, mais que o dobro da média brasileira. “Enquanto o governo federal prefere investir em Cuba, nós conseguimos atrair investimentos de R$ 30 bilhões no Estado.” Segundo ele, o Paraná é o Estado com a maior capacidade de endividamento, podendo assumir compromissos de até R$ 20 bilhões.

    Governador por três mandatos, Requião, por enquanto, está empenhado em enfrentar a divisão do próprio partido no Estado. Ele disse ter certeza de que sairá da convenção como candidato da legenda. Mas também não deixa de fazer críticas à atual gestão. “Os peemedebistas de verdade estão comigo. Como é que eles poderiam aderir a um governo que não existe? Interesses pessoais estão se sobressaindo ao interesse público”, afirmou.

    Em suas gestões, Requião colecionou polêmicas, como a nomeação do irmão Eduardo para dirigir o Porto de Paranaguá, um dos principais do País. Ele ainda proibiu a exportação de soja e milho transgênicos pelo porto, provocando a ira de ruralistas. Assessores dizem que isso é passado e que ele decidiu ser candidato atendendo a apelos dos eleitores.

    Richa também é acusado de nepotismo por ter transformado a própria mulher, Fernanda Richa, numa espécie de supersecretária da área social. Ela dirige a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social, que agregou as antigas pastas do Trabalho, da Criança e da Promoção Social. O irmão dele, Pepe Richa, assumiu a Secretaria de Gestão e Logística, que abarcou as áreas de Infraestrutura, Transportes e a gestão do Porto de Paranaguá.

    O governador não admite o nepotismo e diz que as duas áreas estão entre as de melhor gestão e que o gargalo no porto acabou. Filho do ex-governador José Richa, que administrou o Estado entre 1982 e 1986 e foi um dos fundadores do PSDB, o tucano é lembrado pelo estilo jovem e esportivo, semelhante ao do candidato do PSDB à presidência, o mineiro Aécio Neves.

        

    Candidatos Paraná

    "Desalentador", por Celso Ming

    O Estado de São Paulo

    Nada muito diferente do que já se esperava. A presidente Dilma obteve mais uma pérola medíocre de crescimento do PIB. Não consegue entregar o prometido, nem em avanço da atividade econômica nem em investimento.

    Mesmo levando em conta a revisão positiva do avanço do PIB de 2013 (de 2,3% para 2,5%) e da indústria, que cresceu no último trimestre do ano passado mais do que havia sido anunciado (1,7%, em vez de 1,3%), o desempenho fortemente insatisfatório deste início do ano, de um crescimento de apenas 0,2% sobre o último trimestre, é frustrante, especialmente quando se levam em conta outros parâmetros fracos, como a queda do consumo das famílias sobre o trimestre anterior, de 0,1%, e a queda do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), de 2,1%.




    O governo desfila as desculpas esfarrapadas de sempre: o mau desempenho da economia brasileira é, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, consequência da estagnação da economia internacional e do repique inflacionário que corroeu o poder aquisitivo. Mas, ministro, a crise externa começou em 2007 e não é fato novo que explique mais este fiasco. E a inflação em 12 meses está praticamente no mesmo nível desde o início do governo Dilma.

    Chegamos ao ponto em que causa e consequência se compõem para produzir resultados medíocres. O desempenho sufocante da economia derruba a confiança tanto do empresário como do consumidor; e o baixo nível de confiança, por sua vez, também derruba o investimento, a produção e a disposição de mudar. É um quadro básico que reforça o repeteco fraco para os três trimestres seguintes de 2014, ao contrário do que também disse Mantega.

    A aposta do governo é de que a Copa acabará por reativar o consumo e de que a inflação recuará, fatores que acabarão por reativar o consumo e o PIB. São hipóteses frágeis de que nem o ministro parece convencido.

    A Copa vai reduzir a atividade com mais feriados. As instituições ligadas ao comércio já avisaram que, em frente da TV, o consumidor não se sente estimulado a puxar pelo cartão de crédito. De mais a mais, a inflação mensal pode recuar em alguma coisa, mas, medida em 12 meses, deverá estourar o teto da meta, possivelmente já em junho e por lá ficar nos meses seguintes.

    O momento é de economia tão devagar como antes, quase parando. O gráfico que mostra o mergulho acentuado da poupança e do investimento ao longo do governo Dilma explica muita coisa (veja o Confira): se a semeadura é cada vez menor, a produção também será. São fatores que solapam capacidade de crescimento econômico.

    Não há nenhum elemento novo nas telas de radar que pareça capaz de virar o jogo ainda este ano e de resgatar a confiança perdida com esse mau desempenho. É uma situação ruim que tende a se acentuar com a falta de resposta do governo e com as incertezas trazidas pela própria campanha eleitoral.

    CONFIRA:



    Esta é a evolução do nível de poupança e de investimento desde 2009.

    Poupança e investimento

    O cada vez mais baixo nível de poupança reduz a capacidade de investimento. Mas produz outros efeitos ruins: deixa tanto o governo como o Banco Central com menos possibilidade de manobra para definir políticas, especialmente a política cambial. Para crescer a 3% ao ano, o investimento da economia teria de ser de pelo menos 22% do PIB. O baixo investimento derruba o chamado crescimento potencial.

    "Rainha do pibinho e madrinha da inflação"

    Blog Rodrigo Constantino - Veja


    Dilma rainha
     
     
    A economia brasileira cresceu ridículos 0,2% no primeiro trimestre, com queda na indústria e, principalmente, nos investimentos, que ficaram abaixo de 13% do PIB. Essa taxa é absurdamente baixa e impossibilita um crescimento sustentável. Economistas sérios concordam que ela deveria ser, ao menos, o dobro da atual para colocar o país em uma trajetória de progresso.
     
    Não obstante, a inflação permanece perto do teto da elevada meta, rodando acima de 6% ao ano mesmo com vários preços administrados pelo governo represados. O ministro Guido Mantega culpa a própria inflação pelo baixo crescimento, esquecendo que foi sua equipe a responsável por esse resultado, ninguém mais. Foram os desenvolvimentistas que venderam a falácia de que era preciso ter mais inflação para ter mais crescimento. Acabamos com alta inflação e nada de crescimento.
     
    No começo do ano, o governo insistia ainda em um crescimento perto de 3%, o mercado falava em algo mais perto de 2%, e alguns economistas liberais, como este que vos escreve, achavam que se a taxa chegasse a 1,5% já era de “bom” tamanho, frente à quantidade enorme de equívocos de gestão. Hoje, muitos já falam em 1% de crescimento, e olhe lá! Somos um dos países que menos crescem no mundo!
     
    Dilma é mesmo a rainha do pibinho e a madrinha da inflação, como disseram por aí. É responsabilidade dela, e somente dela, esse lamentável quadro de estagflação: estagnação econômica com elevada inflação. Vem dela a crença no “novo tripé macroeconômico”, que arruinou de vez com os fundamentos econômicos do Brasil. Esse clima de mau humor, de desesperança, de apatia, deve-se totalmente às trapalhadas de Dilma e sua equipe medíocre.
     
    Mas Dilma sempre poderá alegar que o país cresceu, sob sua gestão, mais do que na era Collor! Não é incrível? Confisco de poupança, crise aguda, caos econômico: essas foram as marcas deixadas por Collor, atual aliado do PT. E Dilma, em época de ventos favoráveis para países emergentes, conseguirá entregar um resultado parecido, talvez um pouco melhor. E os petistas ainda celebram a mediocridade!
     
    Os empresários jogam a toalha em quantidade cada vez maior, finalmente compreendendo o que significa manter Dilma no poder. Nem todos, é verdade. Ainda há gente como Luíza Trajano, da Magazine Luíza, que se mostra muito otimista com tanta mediocridade, ou Edson de Bueno Godoy, ex-dono da Amil, que, segundo Jorge Bastos Moreno, declarou abertamente seu voto em um jantar para a presidente: “Eu não tenho vergonha de declarar que voto na senhora”. Pois deveria, Edson! Deveria!
     
    A tendência, com a inexorável deterioração desse quadro já caótico da economia, será mais e mais gente abandonar o barco, mudar o discurso, tornar-se pessimista. Sim, as coisas vão piorar ainda! O PT armou várias armadilhas que ainda vão assombrar a nossa economia. O pior não passou. A rainha do pibinho e a madrinha da inflação ainda tem mais surpresas na cartola. Será cada vez mais difícil fingir que está tudo bem. Como escreveu o senador Cristovam Buarque em sua coluna de hoje no GLOBO:
     
    Fingimos ser um país com ambição de grandeza, mas nos contentamos com tão pouco que os governantes se recusam a ouvir críticas sobre a ineficiência dos serviços públicos. Preferem um otimismo ufanista, comparando com o passado que já foi pior, e denunciam como antipatriotas aqueles que ambicionam mais e criticam as prioridades definidas e a incompetência como elas são executadas. Antipatriota é achar que o Brasil não tem como ir além, é acreditar nos fingimentos.
     
    Antipatriota, hoje em dia, é endossar o projeto bolivariano do PT, autoritário na política e mortal na economia. Não será uma morte abrupta, com uma crise iminente de imensas proporções, mas uma morte lenta, que já estamos vendo, com a perda gradual de otimismo, com a deterioração constante dos fundamentos, uma vez mais deixando uma ótima oportunidade passar. Tudo isso é muito triste, e essa elite que defende tal projeto tem sua grande parcela de culpa.

    "Acorda cedo e vai 'robar'", diz doleira da operação Lava Jato

    FELIPE PATURY - Epoca

               
    Nelma Kodama e Alberto Youssef (Foto: Célio Azevedo/Agência Senado e Sérgio Lima/Folhapress)
     
    Os mais novos relatórios da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, registram um diálogo divertido entre os doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama. Às 20h33 do dia 6 de março, onze dias antes de a operação ser deflagrada e de a dupla de doleiros ser presa, Nelma mandou uma piadinha para Youssef por mensagens eletrônicas:

    Nelma: Quer uma simpatia para ficar rico?

    Youssef: Quero.

    Nelma: Acorda cedo e vai robar (sic).

    Youssef: Fofo.
     
    Às 17h22 do dia 16 de março, véspera da prisão, eles trocaram recordações.

    Nelma: Sabe qual é a melhor viagem que fiz com você?

    Youssef: Qual?

    Nelma: Pra Puerto Iguaçu.

    Youssef: A primeira vez?

    Nelma: Não posso negar, meu amor. Vc foi o único homem que eu amei.

    "Na hora certa", por Dora Kramer

    O Estado de São Paulo

    O ministro Joaquim Barbosa é impetuoso, não mede as palavras, bate de frente quando acha que deve bater e não foram poucas as ocasiões em que perdeu as estribeiras no Supremo Tribunal Federal.


    Características mercuriais que aparentemente contrastam com a absoluta serenidade com que ele se manteve senhor da razão diante da popularidade jamais alcançada por um magistrado e dono do próprio tempo de sair de cena; soube ver a hora de fazê-lo antes do declínio que não raro se segue ao auge.

    Deixar o Supremo antes da aposentadoria compulsória não é prática incomum. O decano da Corte, Celso de Mello, já anunciou que pretende antecipar a saída prevista para 2015. Nos últimos anos, por motivos diferentes, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Eros Grau se aposentaram quando ainda tinham tempo pela frente. Mas não houve comoção nem maiores especulações. Joaquim Barbosa é um caso peculiar.

    Depois da atuação como relator no processo do mensalão e da passagem pela presidência do STF, que lhe conferiram notoriedade (nos melhores e nos piores dos sentidos, dependendo do ponto de vista), a volta dele como apenas mais um integrante do colegiado ficaria muito difícil. Nada poderia ser como antes. Pasta de dentes que não volta ao tubo.

    De imediato, por dois anos estaria sob a presidência de Ricardo Lewandowski, seu mais ferrenho oponente durante o julgamento em que atuou como ministro revisor e cujos embates com Barbosa chegaram a ultrapassar limites de civilidade. De parte a parte, diga-se. Apenas um estava sempre no papel de algoz e outro ficava na posição de vítima.

    Sem a presidência ou a autoridade da relatoria de um processo em que foi na maior parte dele irretorquível - basta ver que foi acompanhado pela maioria em quase todas as suas posições -, Barbosa ficaria bastante vulnerável. Os atritos que criou deixaram sequelas que não podiam ser resolvidas ali, enquanto ele estivesse no comando. Mas, depois, talvez o pusessem no rumo do isolamento, do desprestígio.

    Diferentemente do ministro Marco Aurélio Mello, com vocação para a polêmica e prazer acadêmico de divergir, Joaquim Barbosa não é homem de aceitar com facilidade o contraditório. Não perde com o mesmo conforto daquele que, ao contrário, não abre mão do direito de ser voto vencido há mais de 20 anos.

    Mais que questões de saúde - existentes nos 11 anos em que o ministro passou na Corte - a decisão, de resto anteriormente já anunciada embora sem data, parece ter sido pautada por um sexto sentido que lhe avisou: a missão está cumprida, chega.

    O mesmo que o aconselhou a não cair na tentação de atender ao canto da sereia deste ou daquele partido interessado na sua popularidade para fazer do ministro um "puxador" de votos. Tivesse feito isso, teria passado recibo aos que o acusavam de ter dado condução política ao processo do mensalão.

    Ademais, para entrar na política teria antes de abrir mão de boa parte de suas convicções. E, com elas, de sua reputação. Por essas e outras citadas acima, saiu na hora certa.

    Mal-entendido. Acho que não me fiz entender, quando fiz reparos no artigo "Origem da espécie" à prática do ex-governador Eduardo Campos de atribuir todos os erros que vê no governo exclusivamente à presidente Dilma Rousseff, salvaguardando as duas gestões de Luiz Inácio da Silva.

    Não quis dizer, aliás não disse, conforme interpretaram vários leitores, que o candidato do PSB atua como linha auxiliar do PT, muito menos insinuar que Campos poderia abrir mão da candidatura na hipótese de Lula substituir Dilma.

    Para ficar bem entendido: a crítica referia-se ao fato de, por uma questão estratégica, o candidato ignorar o fato de que muitos dos defeitos apontados por ele tiveram origem nos governos de Lula.

    Consumo perde força como motor da economia do Brasil

     

    Idiana Tomazelli e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo
     

    Demanda das famílias caiu 0,1% em relação ao fim do ano, o pior desempenho desde 2011


    O encarecimento do crédito, por causa da alta dos juros, esfriou o consumo das famílias no primeiro trimestre. O resultado foi um recuo de 0,1% em relação aos três últimos meses de 2013, o pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2011. A desaceleração só não foi maior porque a renda do trabalho continuou crescendo acima da inflação.
          
    Além do crédito, economistas citam o alto endividamento, a confiança em baixa e a tendência de expansão cada vez menor da renda como influências negativas para o consumo também para os próximos trimestres. Mesmo assim, a demanda das famílias avançou 2,2% em relação aos primeiros três meses de 2013, o 42.º resultado consecutivo nesta comparação.


    “Dois fenômenos distintos explicam isso (a queda do consumo em relação ao quarto trimestre). Apesar de os salários reais terem crescido bastante, o crescimento do crédito das famílias desacelerou”, disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.


    Segundo o IBGE, a massa salarial subiu 4% acima da inflação no primeiro trimestre em relação a igual período de 2013. Por outro lado, o crescimento nominal (sem descontar a inflação) do crédito para pessoas físicas foi de 7,3%, de acordo com dados do Banco Central. “Essa taxa era de dois dígitos em termos nominais. Agora, o resultado foi modesto”, disse Rebeca.

    A redução na demanda por crédito foi motivada pela elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central. “No primeiro trimestre de 2013, a média da Selic ficou em 7,1%. No primeiro trimestre deste ano, ficou em 10,4%”, observou Rebeca.

    A despeito do panorama ruim, o resultado do consumo das famílias - que responde por mais de 60% do PIB na ótica da demanda - não surpreendeu os analistas. “A queda da confiança (dos consumidores) ocorre há algum tempo. Há redução no ímpeto de compras”, disse a economista Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    Nos três primeiros meses do ano, a confiança do consumidor acumulou recuo de 3,6%. E o clima para o segundo trimestre não é animador: a queda já está em 4,1% entre abril e maio. “Não temos perspectiva de recuperação”, disse.

    Tendência. O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, reforçou o coro dos que acreditam em arrefecimento ainda mais intenso no consumo das famílias. “A expectativa é que nos próximos trimestres essa desaceleração continue, pois vivemos condições de crédito mais apertado, o mercado de trabalho começa a mostrar arrefecimento e ainda há incertezas políticas”, avaliou.

    Diante deste cenário, o consumo das famílias deve crescer menos neste ano do que os 2,6% verificados em 2013, avaliou o economista João Saboia, professor da UFRJ. “O consumo é combinação de renda e crédito. A renda continua crescendo, ainda que menos, mas pelo lado do crédito tem limites”, disse Saboia, que acredita haver espaço para o avanço do consumo, embora ressalte que esta não pode ser a única fonte de expansão da economia.

    Já o consumo do governo aumentou 0,7% no primeiro trimestre de 2014 em comparação aos três meses anteriores, puxado pelos gastos típicos de ano eleitoral. “Esse é um fenômeno comum em ano de eleição. Isso também aconteceu em 2010”, disse Rebeca, do IBGE.

    PF aponta que cadeira de conselheiro do TCE de MT custou R$ 4 milhões. A era Lula-Dilma banalizou a corrupção

     

    Fausto Macedo e Mateus Coutinho - O Estado de S. Paulo
     

    Operação Ararath aponta negociação entre deputados e suposto interesse do então governador Blairo Maggi (PR/MT)

     
     
    A Polícia Federal rastreou um episódio emblemático no âmbito da Operação Ararath e descobriu como uma cadeira de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso custou R$ 4 milhões. Segundo a PF, o ex-deputado estadual Alencar Soares Filho chegou à Corte de contas de Mato Grosso pela via da propina. Ele teria sido contemplado com R$ 4 milhões para, depois de 5 anos, deixar o cargo e ser substituído por um aliado do então governador de Mato Grosso Blairo Maggi (PR), hoje senador.


    A Operação Ararath, dividida em cinco etapas, é uma polêmica investigação da Polícia Federal que desmontou organização criminosa para prática de lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos e financiamento ilícito de campanhas eleitorais.



    A PF mostra que o acordo previa que a cadeira de Alencar passaria a ser ocupada pelo deputado estadual Sérgio Ricardo, da mesma agremiação política de Blairo, o que acabou ocorrendo de fato. Blairo foi governador de Mato Grosso duas vezes consecutivas, no período 2003/2010.


    Depoimentos e documentos apreendidos pela Ararath permitiram à PF rastrear o negócio. Alencar Soares, então deputado, chegou ao TCE/MT em 2006, por indicação da Assembleia Legislativa. Entre 2008 e 2011 ele acumulou a função de ouvidor geral do tribunal. Aposentou-se em maio de 2012, quando Sérgio Ricardo foi indicado. O episódio merece capítulo à parte na Ararath. A PF suspeita que Alencar “vendeu” a vaga no TCE/MT para Sérgio Ricardo.


    Há duas semanas, quando deflagrou a quinta etapa da Operação Ararath, a PF localizou uma planilha de pagamentos que inclui Alencar Soares e, ao lado de seu nome, a cifra R$ 4 milhões.


    Os investigadores tomaram o depoimento do empresário Gércio Marcelino Mendonça Junior, controlador da Amazônia Petróleo, supostamente usada para operar um “banco clandestino” da organização. Mendonça tornou-se o delator do esquema.


    Ele aponta o envolvimento do ex-secretário da Fazenda de Blairo Maggi na liberação do dinheiro para o ex-conselheiro do TCE/MT. Éder de Moraes, o ex-titular da Fazenda de Blairo, foi preso por ordem da Justiça Federal.

    A PF fez buscas na residência e no escritório de Éder de Moraes e também no gabinete do conselheiro Sérgio Ricardo. A PF suspeita que a trama consistia numa operação “casada”, um acordo político por meio do qual Alencar se comprometeu a ceder, em 5 anos, a cadeira de conselheiro para Sérgio Ricardo mediante aquele valor. Ainda segundo a linha de investigação da Ararath, o ex-conselheiro devolveria o dinheiro quando cessada sua passagem pelo TCE.
    Mas Alencar teria gasto a quantia que recebera para “guardar” a vaga para o aliado de Blairo. Por isso, tomou empréstimo de Gércio Mendonça para quitar a dívida com seu sucessor na Corte de contas.


    Em relatório, a PF é categórica. “Outra pessoa envolvida no esquema é Alencar Soares Filho, então conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, o qual recebeu vantagem pecuniária indevida das mãos de Gércio Marcelino Mendonça Junior, a pedido e na presença de Éder de Moraes Dias, que, por sua vez, agia no interesse e a mando de Blairo Borges Maggi.”


    A PF sustenta que “a vantagem pecuniária recebida, que totalizou R$ 4 milhões, serviria para que Alencar Soares pudesse devolver a Sérgio Ricardo os valores anteriormente pagos por este e tinha como finalidade última a permanência de Alencar na cadeira de conselheiro, no interesse do então governador do Estado Blairo Maggi”. A PF suspeita que Blairo prometeu e posteriormente cumpriu a promessa de dar a Alencar, por intermédio de Éder de Moraes, recursos para serem devolvidos a Sérgio Ricardo, “viabilizando sua permanência no cargo de conselheiro”.
    A propina para Alencar teria sido parcelada, primeiro R$ 1,5 milhão, depois um cheque de R$ 2,5 milhões. Amparado na investigação da PF, o Ministério Público Federal destaca. “Gércio Mendonça afirmou que soube do contexto da venda da vaga no Tribunal de Contas de Mato Grosso no gabinete do conselheiro Alencar Soares, tendo na oportunidade entregue cheque de R$ 2,5 milhões.”

    Planilha apreendida pela PF indica pagamentos
    Documentos da Operação Ararath apontam para suposto esquema de compra de cadeiras do TCE
    Reprodução





    Em depoimento à PF, Gércio de Mendonça contou que foi chamado pelo então secretário da Fazenda de Mato Grosso logo após uma viagem de Blairo Maggi e comitiva junto com o então conselheiro Alencar Soares. O encontro teria ocorrido na sede da Secretaria da Fazenda.


    Segundo Mendonça, o então chefe da Pasta teria dito a ele: “Estamos precisando resolver um assunto de dois milhões e meio, que Blairo Maggi determinou que resolvesse.”


    A PF juntou aos autos o depoimento de Gércio Mendonça. Ele declarou: “Que o depoente compareceu à Secretaria de Estado da Fazenda com o cheque já emitido no bolso de sua camisa, já que não anda com talonário de cheque, vez que cumpriu solicitação de Éder de Moraes para que emitisse um cheque no valor indicado, da Amazônia Petróleo, corno emitente e nominal; Que Éder de Moraes levou o depoente, em uma caminhonete Hilux preta, até o gabinete do então conselheiro do TCE/MT, Alencar Soares; que entraram pela garagem do subsolo e foram direto ao segundo andar; que, ao chegar no gabinete de Alencar Soares, Éder de Moraes teria dito ‘vim honrar um compromisso do governador Blairo Maggi’.”


    Defesa.A assessoria de imprensa do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso informou que o conselheiro Sérgio Ricardo não vai se manifestar porque não se considera investigado pela Operação Ararath ou, muito menos, formalmente acusado. Para Sérgio Ricardo, as buscas em seu gabinete fazem parte de procedimentos normais da PF em consequência da delação premiada do empresário Gércio Mendonça.


    O conselheiro de contas tem dito a interlocutores que está “tranquilo” e convencido de que “nada será provado contra ele” porque houve um acordo político para que assumisse a cadeira no TCE após 5 anos de permanência de Alencar Soares no posto. Por meio de sua assessoria, o senador Blairo Maggi (PR-MT) negou qualquer relação com o episódio e informou que jamais interferiu na nomeação de conselheiros para o Tribunal de Contas do Estado “tendo sempre nomeado os indicados pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso”.


    Alencar Soares, ex-conselheiro do TCE/MT, não foi localizado. Atualmente ele é filiado ao PSD, mesmo partido do deputado José Geraldo Riva, também alvo da Operação Ararath. Riva, inúmeras vezes réu por improbidade administrativa, chegou a ser preso pela Polícia Federal, há duas semanas. Depois, foi colocado em liberdade.

    "Cresce o pessimismo no comércio e na construção", editorial do Estadão

    Greves, manifestações - às vezes violentas - nas ruas e os feriados decretados pelas autoridades para dias de Copa do Mundo ajudaram a empurrar ainda mais para baixo os indicadores de confiança do comércio, já bastante afetados pela perda de dinamismo da atividade econômica, a elevação dos juros e a redução do poder de compra dos consumidores decorrente da inflação e da queda do salário real. É o que transparece na Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas referente ao trimestre março/maio, divulgada simultaneamente com a Sondagem da Construção, que indicou forte abatimento do ânimo dos empresários.



    As duas sondagens são uma ducha fria na pretensão oficial de alcançar alguma recuperação da economia neste trimestre, transferindo-se as expectativas para o segundo semestre, quando serão realizadas as eleições gerais.

    Mas o que há, em especial, nos setores de atividade que produzem bens de maior valor, que apresentam declínio surpreendente, é justamente uma crise de confiança. No comércio, o índice de expectativas caiu 2,6 pontos entre os trimestres encerrados em abril e em maio.

    Na construção, o índice trimestral de expectativas caiu 7,7% em abril e ainda mais, 11,4%, em maio. Na comparação mensal, a queda passou de 12,2%, em abril, para 13,4%, em maio.

    A desconfiança é maior no segmento de obras de infraestrutura para engenharia elétrica e telecomunicações, o que se explica pela crise por que passa a área de eletricidade. Na comparação mensal, esse segmento cai desde janeiro.

    Já na Sondagem do Comércio, a desconfiança é predominante no segmento de veículos, motos e peças, onde o indicador de situação atual registrou 98,1 pontos, numa escala em que 100 pontos é o termo médio, abaixo do qual a situação é negativa. A queda foi de 16,9% em relação ao mesmo trimestre de 2013. Na comparação entre os mesmos meses de 2013 e 2014, houve queda nos demais setores (varejo restrito, material para construção, varejo ampliado e atacado), mas o índice ainda está no campo positivo.

    Esgotados os instrumentos de estímulo ao consumo, sem que o varejo dê sinais de retomada, a desconfiança no setor da construção revela que nem os programas voltados para as faixas de menor renda, como o Minha Casa, bastam para infundir ânimo nas quase 700 empresas ouvidas no levantamento.

    "O pibinho, os gringos e a conspiração de São Pedro", por Rolf Kuntz

    O Estado de São Paulo

     
    Com o desastre econômico do primeiro trimestre, uma expansão miserável de 0,2% combinada com inflação alta e enorme rombo comercial, a presidente-gerente Dilma Rousseff completou três anos e três meses de fracasso econômico registrado oficialmente. O fracasso continua, como confirmam vários indicadores parciais, e continuará nos próximos meses, porque a indústria permanece emperrada e o ambiente econômico é de baixa produtividade.
     
    Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece desconhecer a história dos últimos três anos e um quarto. Em criativa entrevista, ele atribuiu o baixo crescimento brasileiro no primeiro trimestre a fatores externos e a problemas ocasionais. A lista inclui a instabilidade cambial, a recuperação ainda lenta das economias do mundo rico e a inflação elevada principalmente por causa dos alimentos. Culpa dos gringos, portanto, e isso vale igualmente para o judeu Simão, também conhecido como São Pedro, supervisor e distribuidor das chuvas e trovoadas.

    No triste cenário das contas nacionais divulgadas nesta sexta-feira, só se salva a produção agropecuária, com crescimento de 3,6% no trimestre e de 4,8% no acumulado de um ano. Os detalhes mais feios são o investimento em queda e o péssimo desempenho da indústria. Em sua pitoresca entrevista, o ministro da Fazenda atribuiu o baixo investimento à situação dos estoques e ao leve recuo - queda de 0,1% - do consumo das famílias, causado em grande parte pela alta do custo da alimentação. A explicação pode ser instigante, mas deixa em total escuridão o fiasco econômico dos últimos anos, quando o consumo, tanto das famílias quanto do governo, cresceu rapidamente.

    O investimento em máquinas, equipamentos, construções civis e obras públicas - a chamada formação bruta de capital fixo - caiu, como proporção do produto interno bruto (PIB), durante toda a gestão da presidente Dilma Rousseff.

    No primeiro trimestre de 2011, quando o governo estava recém-instalado, essa proporção chegou a 19,5%. Caiu seguidamente a partir daí, até 17,7% nos primeiros três meses de 2014. Durante esse período o consumo das famílias aumentou velozmente, sustentado pela expansão da renda e do crédito, mas nem por isso os empresários investiram muito mais.

    Além disso, o governo foi incapaz de ir muito além da retórica e das bravatas quando se tratou de executar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nem as obras da Copa avançaram no ritmo necessário, apesar do risco de um papelão internacional.

    A estagnação da indústria reflete o baixo nível de investimentos, tanto privados quanto públicos, e a consequente perda de poder de competição. Por três trimestres consecutivos a produção industrial tem sido menor que nos três meses anteriores. Encolheu 0,1% no período julho-setembro, diminuiu 0,2% no trimestre final de 2013 e 0,8% no primeiro deste ano. Não há como culpar as potências estrangeiras ou celestiais por esse desempenho.

    O conjunto da economia brasileira é cada vez menos produtivo, embora alguns segmentos, como o agronegócio, e algumas empresas importantes, como a Embraer, continuem sendo exemplos internacionais de competitividade.

    O baixo crescimento do PIB, apenas 0,2% no trimestre e 2,5% em 12 meses, reflete essa perda de vigor, associada tanto à insuficiência do investimento em capital fixo quanto à escassez crescente de pessoal qualificado. Não por acaso, o País apareceu em 54.º lugar, numa lista de 60 países, na última classificação de competitividade elaborada pelo International Institute for Management Development (IMD), da Suíça.

    O baixo desempenho da economia, especialmente da indústria, tem tudo a ver com a piora das contas externas. O efeito mais evidente é a erosão do saldo comercial. No primeiro trimestre, período de referência das contas nacionais atualizadas, o País acumulou um déficit de US$ 6,1 bilhões no comércio de mercadorias. O resultado melhorou um pouco desde abril, mas na penúltima semana de maio o buraco ainda era de US$ 5,9 bilhões. O Banco Central (BC) continua projetando um saldo de US$ 8 bilhões para o ano, muito pequeno para as necessidades brasileiras. No mercado, a mediana das projeções coletadas em 23 de maio na pesquisa semanal do BC indicava um superávit de apenas US$ 3 bilhões.

    Estranhamente, os deuses parecem ter poupado outros países dos males atribuídos pelo ministro da Fazenda ao quadro externo. Outras economias continuaram crescendo mais que a brasileira e com inflação menor, apesar de sujeitas à instabilidade dos mercados financeiros e a outros problemas internacionais. A inflação no Brasil tem permanecido muito acima da meta oficial, 4,5%, e a maior parte das projeções ainda aponta um resultado final em torno de 6% para 2o14. Até agora, o recuo de alguns preços no atacado pouco afetou o varejo e os consumidores continuam sujeitos a taxas mensais de inflação superiores a 0,5%. O ritmo poderá diminuir nos próximos meses, mas, por enquanto, as estimativas indicam um repique nos quatro ou cinco meses finais de 2014.

    O aperto monetário, interrompido pelo BC na quarta-feira, pode ter produzido algum efeito, mas o desajuste das contas do governo ainda alimenta um excesso de demanda. Na quinta-feira o Tesouro anunciou um superávit primário de R$ 26,7 bilhões nos primeiros quatro meses. Quase um terço desse total, R$ 9,2 bilhões, ou 31%, correspondeu a receita de concessões e dividendos. As concessões renderam 207,4% mais que no período de janeiro a abril do ano passado. Os dividendos foram 716,4% maiores que os do primeiro quadrimestre de 2013. Chamar isso de arrecadação normal e recorrente sem ficar corado vale pelo menos um Oscar de ator coadjuvante. A economia vai mal, mas a arte cênica brasileira ainda será reconhecida. Há mais valores entre o céu e a terra do sonham os críticos da política econômica.

    "Dever cumprido", editorial do Estadão

     

    Podendo ainda ficar mais dez anos como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e tendo ainda pela frente meio ano de mandato como presidente daquela Corte, Joaquim Barbosa decidiu aposentar-se a partir de 1.º de julho. A decisão de abandonar o proscênio da vida pública pode parecer prematura. Mas o fato é que a aposentadoria de Barbosa encerrará um ciclo importante da História do País. Foi sua grande obra o julgamento da Ação Penal 470, que sinalizou o fim da impunidade dos poderosos e ajudou a restaurar a confiança dos brasileiros no império da lei.


    Apesar disso, e ficando em evidência durante o julgamento do mensalão, Joaquim Barbosa esteve sempre longe de ser uma unanimidade nacional. Isto se deveu, em parte, à aspereza de seu temperamento, sempre pronto a confrontar com contundência e, não raro, deselegância, as divergências e as provocações. Mas deveu-se, também, à virulenta orquestração dos interesses político-partidários contrariados por sua meticulosa e sólida condução, na condição de relator, do julgamento do mensalão.

    Se, por um lado, os excessos temperamentais do ministro não engrandecem sua biografia, por outro, o combate sem tréguas contra ele movido pelo comando e pela militância de um partido político que se sentiu ameaçado nos planos de permanecer no poder a qualquer preço dá a exata medida do exemplar zelo com que Joaquim Barbosa soube preservar sua autonomia e imparcialidade de magistrado. Afinal, sua condução à Suprema Corte, em 2003, foi obra exatamente do governo envolvido até a medula nos crimes que acabaram colocando atrás das grades líderes de primeira grandeza do PT e aliados.

    O papel que Joaquim Barbosa se disporá a exercer doravante na vida pública brasileira é um problema que diz respeito exclusivamente a ele próprio. Mas desde já, mal anunciada sua intenção de se aposentar, lideranças dos principais partidos de oposição manifestaram a intenção de contar com o prestígio de seu apoio. Devem saber o que estão fazendo. Joaquim Barbosa, no entanto, escolheu o momento de anunciar sua aposentadoria para sinalizar que não se renderia a barganhas políticas. Porque se esse fosse seu intento, pelo menos imediato, como insistem seus detratores, teria anunciado sua decisão algumas semanas antes, quando ainda tinha a possibilidade de se filiar a uma legenda partidária para, se fosse o caso, disputar as eleições de outubro.

    A vaga que a aposentadoria de Joaquim Barbosa abrirá no STF a partir de julho coloca a presidente Dilma Rousseff diante da delicada responsabilidade de nomear o substituto. A questão é bem mais complexa do que certamente imaginam muitos de seus correligionários para os quais a escolha “certa” é aquela que leva em conta parâmetros de comprometimento do candidato à vaga com o partido do governo. Trata-se de um critério que projeta tenebrosas dúvidas não apenas sobre o escolhido para o cargo, mas sobre todo o Supremo, como mostra experiência recente.

    Ocorre que, pelo menos até a decisão do pleito presidencial, provavelmente no segundo turno de 26 de outubro, a escolha de um novo ministro claramente identificado com o partido no poder pode repercutir negativamente na faixa do eleitorado independente – aquele não necessariamente comprometido com alguma legenda em particular. Seria o caso dos dois nomes que imediatamente passaram a ser especulados como fortes candidatos: o do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o do advogado-geral da União, Luis Inácio Adams. Mais do que conhecidos por seus méritos como juristas, ambos são facilmente identificados como petistas, o que certamente seria usado pela oposição.

    Ao longo dos quase três anos e meio de mandato, a presidente Dilma teve a sabedoria de se manter rigorosamente distante da polêmica criada a partir da Ação Penal 470, que incendiou a opinião pública, levando alguns – como Lula – a equiparar o feito judicial a uma “fraude”. É de esperar que esse comportamento não mude.

    "Quanto custa o atraso do PAC", editorial do Estadão

     

    Por incompetência administrativa, negligência, desconhecimento da realidade ou pura má-fé, obras bilionárias de grande importância para a atividade produtiva e para a vida da população começam com grande atraso ou só terminam muito depois do prazo previsto. Algumas nem saem do papel. Essa prática, constatada no governo Lula e intensificada na gestão Dilma, resulta em custos adicionais que muitas vezes superam o orçamento original – e a demora na conclusão das obras, ao retardar os benefícios esperados, impõe custos adicionais ao País.


    Num estudo envolvendo apenas seis grandes obras atrasadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – que serviu eficazmente ao ex-presidente Lula para transformar Dilma Rousseff em sua sucessora e está servindo a ela como instrumento para tentar obter mais um mandato –, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) constatou que, se elas tivessem sido concluídas de acordo com o cronograma oficial, teriam propiciado melhores condições para o sistema produtivo, que teria gerado uma produção adicional de R$ 28 bilhões. Visto por outro ângulo, este é o valor que o País já “perdeu” por conta do atraso. É uma quantia próxima da que se estima gastar para a realização da Copa do Mundo.

    Entre as obras examinadas, a de maior custo é a transposição do Rio São Francisco, projeto megalômano anunciado pelo ex-presidente Lula ainda em seu primeiro mandato, cujo lançamento foi feito em 2005, quando não havia ainda um projeto detalhado. Tornou-se um exemplo de mau planejamento, pois não se baseou em informações mais precisas nem num projeto suficientemente completo para permitir a execução da obra sem necessidade de grandes alterações que implicassem atrasos e revisões substanciais de custo.

    O resultado é o que se vê. Houve grande atraso na obra, que deveria estar concluída parcialmente em 2010 e inteiramente em 2011, mas só deverá ser entregue em 2015, de acordo com a promessa mais recente do governo. O contrato da obra foi refeito várias vezes, tendo havido até sua divisão em 14 subcontratos, o que tornou inviável seu controle administrativo e financeiro.

    Só por conta do atraso de cinco anos, a CNI estimou as perdas em R$ 11,7 bilhões. É o valor do que poderia ter sido produzido pela agropecuária local com o uso de irrigação, que estaria disponível desde 2010, caso a obra estivesse pronta na data prevista.

    Destaque-se que as perdas estimadas pela CNI referem-se a apenas meia dúzia de obras do PAC – as de maior orçamento, reconheça-se. Pode-se imaginar o que o País está perdendo com os atrasos de todas as obras do PAC, que acabou sendo um programa de natureza muito mais política do que de infraestrutura. O atraso sistemático tem propiciado correções dos contratos, o que facilita o desvio de recursos.

    Obras de mobilidade urbana, anunciadas com estardalhaço pelo governo Dilma em 2011 como necessárias para melhorar a vida da população nas grandes cidades – e que, adicionalmente, facilitariam a circulação de pessoas durante a realização da Copa do Mundo –, estão em situação ainda pior. Reportagem do jornal Valor (26/5), baseada em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à informação, mostrou que não falta dinheiro para essas obras. Falta competência – e em praticamente todos os níveis da administração.

    De R$ 12,4 bilhões que o governo Dilma havia assegurado em abril de 2012 para Estados e municípios, a fundo perdido, para obras como metrô e corredores de ônibus, apenas R$ 479 milhões, ou pífios 3,9%, foram sacados. O programa de mobilidade urbana então anunciado totalizava R$ 37,6 bilhões (sendo R$ 13,9 bilhões financiados por instituições federais a juros altamente subsidiados e R$ 11,3 bilhões de responsabilidade de governos estaduais ou prefeituras responsáveis pela obras, além do dinheiro federal oferecido a fundo perdido).

    Nem mesmo as manifestações de rua exigindo transportes mais eficientes e mais baratos foram suficientes para as autoridades retirarem esses projetos do papel.

    "O PIB do fracasso", editorial do Estadão

     

    A economia brasileira vai continuar anêmica, sem fôlego para crescer como outros emergentes e sem força, ainda por um bom tempo, para enfrentar os principais competidores. O Brasil seguirá perdendo o jogo por falta de eficiência e de capacidade produtiva.


    Esta é a pior notícia embutida nas contas nacionais do primeiro trimestre, balanço de um desempenho abaixo de pífio, com crescimento de apenas 0,2% em relação aos três meses finais de 2013. Projetada para um ano, essa taxa corresponde a pouco mais de 0,8%, em termos acumulados, mas até esse resultado já parece acima das possibilidades, segundo alguns analistas. Mas o detalhe mais negativo é outro: o País permanece condenado a crescer muito menos do que poderia, se fosse governado com alguma competência, porque a taxa de investimento produtivo, já muito baixa nos últimos anos, voltou a cair.

    Nos primeiros três meses deste ano o governo e o setor privado investiram em máquinas, equipamentos, instalações e obras de infraestrutura apenas 17,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa proporção, um ano antes, era de 18,2%. Em outros emergentes essa proporção raramente fica abaixo de 24% e em muitos casos passa de 30%. Na China, tem superado os 40%.

    Uma comparação mais completa, e até mais negativa para o Brasil, deveria incluir os números e a qualidade da mão de obra disponível. Não basta gastar mais em educação e promover a multiplicação de vagas de grau superior, se a formação é ruim nos cursos fundamental e médio e a maior parte das faculdades produz mais diplomas do que competências.

    O investimento em queda e a indústria estagnada são os detalhes mais assustadores do quadro divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com os novos números do Produto Interno Bruto. A taxa de investimento chegou a 19,5% no primeiro trimestre de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff ainda se acomodava no gabinete principal do Palácio do Planalto. Caiu, a partir daí, para 18,8%, nos primeiros três meses de 2012; para 18,2%, um ano depois; e para 17,7%, no trimestre inicial de 2014.

    A queda comprova mais uma vez o fracasso, nada surpreendente, da estratégia seguida neste governo e em parte implantada no governo anterior. Falhou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O plano de concessões de infraestrutura, mal concebido e mal executado, demorou a deslanchar e pouco avançou. Os financiamentos com recursos federais privilegiaram grandes empresas do próprio governo e grupos selecionados para tornar-se campeões. Os estímulos fiscais beneficiaram indústrias selecionadas e favoreceram muito mais o consumo do que a produção. O sistema tributário, irracional e absurdamente oneroso, permaneceu quase intacto.

    Enquanto isso, o governo continuou gastando, intervindo na economia de forma desastrada e perdendo credibilidade.

    O péssimo desempenho da indústria, com recuo de 0,8% nos primeiros três meses e crescimento de apenas 2,1% em quatro trimestres, também mostra a falência de um estilo de política econômica. O protecionismo foi incapaz de impedir a conquista de fatias crescentes do mercado interno pelos produtores estrangeiros. Além disso, seria inútil como instrumento de competitividade para os fabricantes nacionais atuarem no mercado externo. Isso foi sempre óbvio. Mas o governo, com apoio de parte do empresariado, preferiu reeditar um modelo defensável, há décadas, quando ainda tinha sentido falar de indústria nascente.

    Mais uma vez a agropecuária impediu um desastre maior. Sua produção no primeiro trimestre foi 3,6% maior que nos três últimos meses do ano passado. Em 12 meses, o crescimento acumulado chegou a 4,8%, enquanto a expansão do PIB total continuou em 2,5%, a mesma taxa de 2013. Este é o número revisto. O dado anterior (2,3%) foi revisto depois de atualizada a pesquisa do setor industrial. Essa atualização pouco afetou o quadro geral do ano passado e as perspectivas deste ano. A estatística melhorou, mas a política é tão ruim.

    Mercado piora estimativas e já vê PIB crescendo só 1% este ano

    O Globo

     


    Uma economia que agora deve crescer entre 1% e 1,6% em 2014 e que permanecerá com avanço modesto no ano que vem. As projeções após o avanço de 0,2% no primeiro trimestre do ano mostram uma deterioração da expectativa de bancos e consultorias.
    O Itaú Unibanco está no piso das projeções, com um crescimento estimado de 1% em vez de 1,4%. Para o segundo trimestre, o banco prevê contração de 0,2%.

    A Gradual Investimentos também rebaixou as estimativas deste ano de 1,9% para 1,5%. No entanto, o economista André Perfeito considera que a economia pode crescer até 2,8% no ano que vem, com uma base de comparação mais baixa e uma possível melhora no cenário internacional poderá resultar em alta de 3,5% em 2016.
    Na onda de revisões, a Rosenberg Associados espera agora por um PIB de 1,6%, em vez de 1,8%. Para 2015, projeta iguais 1,8%. O banco Goldman Sachs rebaixou o PIB estimado de 1,8% para 1,3%.

    Já o Banco ABC passou de uma previsão de 1,6% no ano para 1,2%. A consultoria Brasil Plural foi a que mais rebaixou a expectativa, de 1,7% para 1%.

    Entre as consultorias ouvidas pelo GLOBO, somente a MB Associados, que projeta expansão de 1,3%, não alterou sua previsão.

    A LCA Consultores estima variação entre 0% e 0,5% no segundo trimestre. A LCA e a Tendências Consultoria farão revisões para o ano.

    A edição mais recente do Boletim Focus, na última segunda-feira, mostrou que a média das 100 instituições consultadas pelo Banco Central na pesquisa é de alta de 1,63%, ligeira redução em relação aos 1,65% de um mês antes.

    Além das revisões, o fraco desempenho da economia fez com que o Brasil ficasse mal posicionado entre as economias que mais cresceram no mundo neste ano. Está na 24ª posição, de acordo com a Austin Rating. Entre os latino-americanos, supera o México, mas está atrás do Peru, 6º colocado, e do Chile, 18º.


    Ministro da Justiça, Cardozo tenta justificar escolta da PF à filha

    Citando relatório da Polícia Federal, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, justificou a escolta feita por agentes federais para sua filha, Mayra. "Não vou falar de fatos, mas houve um relatório de inteligência da Polícia Federal, que me foi apresentado. A PF sugeriu que fosse feita a escolta", disse o ministro, em São Paulo. Continue lendo http://migre.me/juO6z

    Maluf tornou-se símbolo da reabsolvição eterna

    Alexandre Padilha apresenta-se ao eleitorado de São Paulo como novidade. É uma alternativa com boa cara para o eleitor que deseja a alternância no poder estadual. Uma opção petista à hegemonia tucana de duas décadas. Para colocar seu projeto em pé, Padilha foi atrás do Maluf, cortejou o Maluf, ofereceu vantagens ao Maluf, seduziu o Maluf. Nesta sexta-feira, em troca de 1min15s de propaganda no rádio e na tevê, Padilha entregou a viabilidade do novo à conveniência do Maluf. Leia mais http://migre.me/juNt0

    Otimismo num país que atrasa obra de saneamento é maluquice ou alienação

    De todas as crises brasileiras, a mais grave é a crise de semântica. Diz-se à larga que o Brasil está melhorando. Antes de tirar qualquer conclusão é preciso combinar o que é “melhorar”.
    A melhoria se mede em número de estádios reformados ou em número de privadas conectadas à rede de esgoto? Falar a mesma língua é a primeira condição para chegar a algum acordo.
    Nesta semana, quando se imaginava que tudo caminhava bem —a família Scolari concentrada, a Dilma feliz com o último Ibope, o Aécio achando que vai dar segundo turno, os mensaleiros eufóricos com a aposentadoria do Barbosa…—, vem o instituto Tratabrasil e diz que 58% das obras de esgoto do PAC estão atrasadas.

    Leia mais http://migre.me/juNc3

    A farsa dos movimentos sociais

     Blog Reinaldo Azevedo - Veja


    A “Carta ao Leitor” da VEJA
     
     
    CARTA AO LEITOR
     
     
    Une os governos de Lula e Dilma Rousseff o apoio ao que seus ideólogos chamam de “movimentos sociais”, que nada mais são do que grupos organizados para servir de massa de manobra aos interesses políticos radicais. O encarregado de organizar e manter vivos esses grupos é Gilberto Carvalho, que, de sua sala no Palácio do Planalto, atua como um ministro para o caos social. Essa pasta, de uma forma ou de outra, existe em todos os governos populistas da América Latina e se ocupa da cínica estratégia de formar ou adotar grupos com interesses que não podem ser contemplados dentro da ordem institucional, pois implicam o desrespeito às leis e aos direitos constitucionais.
     
    Ora são movimentos de índios que reivindicam reservas em áreas de agronegócio altamente produtivas e até cidades inteiras em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, ora são pessoas brancas como a neve que se declaram descendentes de escravos africanos e querem ocupar à força propriedades alheias sob o argumento improvável de que seus antepassados viveram ali. A estratégia de incitar esses grupos à baderna e, depois, se vender à sociedade como sendo os únicos capazes de conter as revoltas é a adaptação moderna do velho truque cartorial de criar dificuldades para vender facilidades.
     
    Brasília assistiu, na semana passada, a uma dessas operações. Alguns índios decidiram impedir que as pessoas pudessem ver a taça da Copa do Mundo, exposta no estádio Mané Garrincha. A polícia tentou reprimir o ato, e um dos silvícolas feriu um policial com uma flechada. Atenção! Isso ocorreu no século XXI, em Brasília, a cidade criada para, como disse o presidente Juscelino Kubitschek no discurso de inauguração da capital, há 54 anos, demonstrar nossa “pujante vontade de progresso (…), o alto grau de nossa civilização (…) e nosso irresistível destino de criação e de força construtiva”. Pobre jK. Mostra uma reportagem desta edição que progresso, civilização e força construtiva passam longe de Brasília. As ruas e avenidas da capital e de muitas grandes cidades brasileiras são território dos baderneiros.
     
    Há três meses, o MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, mandou seus militantes profissionais atacar o Planalto. Gilberto Carvalho foi até a rua, onde, depois de uma rápida conversa, se combinou que Dilma receberia os manifestantes. “O MST contesta o governo, e isso é da democracia”, explicou Carvalho, o pacificador, que, com um dedo de prosa, dissolveu o cerco feroz.
     
    O MST é um movimento arcaico, com uma pauta de reforma agrária do século passado em um Brasil com quase 90% de urbanização e 80% da produção dos alimentos consumidos pelos brasileiros vinda da agricultura familiar. Por obsoleto, já deveria ter desaparecido.
     
    Mas Carvalho não permite que isso ocorra. O MST faz parte do exército de reserva e precisa estar pronto se convocado. Foi o que se deu na semana passada, quando João Pedro Stedile, um dos fundadores do movimento, obediente ao chamado do momento, atirou: “Só espero que não ganhe o Aécio Neves, porque aí seria uma guerra”. É impossível não indagar: contra quem seria essa guerra? A resposta é óbvia: contra a vontade popular e contra a democracia.